Por Raquel Rocha
Comunicóloga, Economista
Psicanalista e Especialista em Saúde Mental
Especialista em Neuropsicologia
Membro da Academia de Letras de Itabuna
Membro da Academia de Letras de Itabuna
Dia de sábado ela chegava cedíssimo com
sua bicicleta. Arrumava a casa toda em 30 minutos, quando eu acordava ela
estava com o maior sorriso do mundo nos lábios, uma caneca de café para mim nas
mãos e o convite: "Já tá tudo pronto! Vamos bater perna na rua?" Eu
dizia que a gente não tinha nada pra comprar na rua e ela repetia "Vamos
só bater perna!!!"
Como
resistir a um convite desses feito com um sorriso tão grande? Enquanto eu
pensava na roupa que ia vestir ela já tinha arrumado Melzinha, que na
época tinha pouco mais de 6 anos. Já tinha arrumado, dado café da manhã e feito
um penteado lindo. Eu nunca entendi aquela habilidade que Jaci tinha de fazer
tudo tão rápido e com tanto amor.
Íamos pra rua, ela ia contando que tinha
chegado de alguma festa as 4 manhã e eu não acreditava como alguém que tinha
dormido menos de 3 horas podia acordar com tanta energia e tanta alegria.
Sua valentia era tão
grande quanto sua alegria. Jaci não deixava nada barato, xingava quem roubasse
minha vaga para estacionar, gritava com quem parava o carro na rua pra
conversar, falava grosso com os flanelinhas. Ela não tinha filtros, nem
hipocrisia.
Andávamos, contávamos
história, comprávamos bobagens que não precisávamos. Ela corria pela rua como
uma criança com Mel, eu reclamava, mas era da boca pra fora, porque no fundo
sabia que Mel com ela estava segura. Segura e feliz. Jaci mataria e morreria
para defender minha filha de algo ruim.
Entrávamos em lojas, quando
eu vestia roupa tinha que sair do provador e mostrar pra ela. Ela vestia
também, parecia uma criança quando gostava de algo, “Passa o cartão?” pedia ela
sem pensar no amanhã. Jaci não queria saber o preço, só queria ser feliz!
Sempre Finalizávamos
nossas manhãs de sábado comendo pasteis em uma barraca de pé de muro com
aparência feia. Eu não comeria lá sozinha, mas com Jaci parecia que tudo era
permitido.
Chegávamos em casa
cheias de sacolas empanturradas de pastéis e ela me perguntava "Precisa
fazer almoço?" Claro que não precisava. Sentávamos no chão, íamos abrir
sacolas, rir, fazer uma bagunça enorme que ela daria um jeito de arrumar em 3
minutos. Vamos experimentar de novo? E lá ia Jaci se vestir e vestir minha Mel
com as roupas novas, desfilavam pela casa, pulavam, riam alto felizes.
Jaci foi um anjo em
minha vida, o anjo mais defeituoso que já vi e também mais amoroso. O carinho
que Jaci deu para minha Mel não tem preço, Jaci trouxe alegria para minha casa
e para minha vida durante anos.
Um dia Jaci foi embora,
se apaixonou, largou tudo, marido, emprego e seguiu seu coração... Jaci só
queria ser feliz! Hoje seus filhos lhe deram netos, ela é uma avó com cara de
menina. Jaci sempre será menina. Nas fotos vejo-a pegando-os no colo como
pegava minha Mel, eu olho para aquelas crianças e sei que eles são extremamente
sortudas por terem Jaci na vida deles, assim como eu tive.
Hoje é sábado, hoje eu
acordei e senti saudade enorme de ouvir sua voz excitada me chamando:
"Vamos bater perna na rua?"
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