sábado, 29 de abril de 2017

Jaci era Alegria

 
 
Por Raquel Rocha
Comunicóloga,  Economista
Psicanalista e Especialista em Saúde Mental
Especialista em Neuropsicologia
Membro da Academia de Letras de Itabuna
 
 
Dia de sábado ela chegava cedíssimo com sua bicicleta. Arrumava a casa toda em 30 minutos, quando eu acordava ela estava com o maior sorriso do mundo nos lábios, uma caneca de café para mim nas mãos e o convite: "Já tá tudo pronto! Vamos bater perna na rua?" Eu dizia que a gente não tinha nada pra comprar na rua e ela repetia "Vamos só bater perna!!!"
Como resistir a um convite desses feito com um sorriso tão grande? Enquanto eu pensava na roupa que ia vestir ela já tinha arrumado Melzinha, que na época tinha pouco mais de 6 anos. Já tinha arrumado, dado café da manhã e feito um penteado lindo. Eu nunca entendi aquela habilidade que Jaci tinha de fazer tudo tão rápido e com tanto amor.
Íamos pra rua, ela ia contando que tinha chegado de alguma festa as 4 manhã e eu não acreditava como alguém que tinha dormido menos de 3 horas podia acordar com tanta energia e tanta alegria.
Sua valentia era tão grande quanto sua alegria. Jaci não deixava nada barato, xingava quem roubasse minha vaga para estacionar, gritava com quem parava o carro na rua pra conversar, falava grosso com os flanelinhas. Ela não tinha filtros, nem hipocrisia.
Andávamos, contávamos história, comprávamos bobagens que não precisávamos. Ela corria pela rua como uma criança com Mel, eu reclamava, mas era da boca pra fora, porque no fundo sabia que Mel com ela estava segura. Segura e feliz. Jaci mataria e morreria para defender minha filha de algo ruim.
Entrávamos em lojas, quando eu vestia roupa tinha que sair do provador e mostrar pra ela. Ela vestia também, parecia uma criança quando gostava de algo, “Passa o cartão?” pedia ela sem pensar no amanhã. Jaci não queria saber o preço, só queria ser feliz!
Sempre Finalizávamos nossas manhãs de sábado comendo pasteis em uma barraca de pé de muro com aparência feia. Eu não comeria lá sozinha, mas com Jaci parecia que tudo era permitido.
Chegávamos em casa cheias de sacolas empanturradas de pastéis e ela me perguntava "Precisa fazer almoço?" Claro que não precisava. Sentávamos no chão, íamos abrir sacolas, rir, fazer uma bagunça enorme que ela daria um jeito de arrumar em 3 minutos. Vamos experimentar de novo? E lá ia Jaci se vestir e vestir minha Mel com as roupas novas, desfilavam pela casa, pulavam, riam alto felizes.
Jaci foi um anjo em minha vida, o anjo mais defeituoso que já vi e também mais amoroso. O carinho que Jaci deu para minha Mel não tem preço, Jaci trouxe alegria para minha casa e para minha vida durante anos.
Um dia Jaci foi embora, se apaixonou, largou tudo, marido, emprego e seguiu seu coração... Jaci só queria ser feliz! Hoje seus filhos lhe deram netos, ela é uma avó com cara de menina. Jaci sempre será menina. Nas fotos vejo-a pegando-os no colo como pegava minha Mel, eu olho para aquelas crianças e sei que eles são extremamente sortudas por terem Jaci na vida deles, assim como eu tive.
Hoje é sábado, hoje eu acordei e senti saudade enorme de ouvir sua voz excitada me chamando: "Vamos bater perna na rua?"
 
 

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