sábado, 30 de abril de 2011

Erik Erikson e os 8 estágios


Há algum tempo eu queria falar sobre Erik Erikson aqui mas não poderia fazê-lo sem falar antes dos mestres maiores da psicanálise, Freud, Jung, Klein... Não poderia mas fiz, Melanie Klein que me perdoe mas vou falar de Erik Erikson antes tocar no "seio bom".

Penso que Erikson é um dos nomes mais importantes da psicologia do desenvolvimento pois sua teoria abrange todo o ciclo vital, do nascimento até a morte. Ele foi um seguidor da teoria Freudiana mas fez diversos acréscimos ampliando as possibilidades. Segundo ele a personalidade humana é determinada não apenas pelas experiências da infância mas também por todas as experiências ocorridas ao longo dos oito estágios, inclusive os da fase a adulta. Uma personalidade está sempre sendo influenciada pelos acontecimentos, pelo meio e pelas pessoas.

Gosto de Erikson, de seu olhar observador, de sua teoria bem explicadinha. Por vezes  pego-me analisando características de alguém em uma determinada idade e pensando "Erikson tinha razão.."


QUEM FOI ERIK ERIKSON

Erik Homburger Erikson nasceu em Frankfurt, na Alemanha, em 15 de junho de 1902. Começou a vida como artista plástico e aos 25 anos foi lecionar em Viena quando passou a ter contato com a família Freud, em especial Anna Freud com quem começou a fazer análise.  Ele começou a se interessar pela psicanálise em 1933, após completar a sua formação como psicanalista, foi eleito para o instituto de psicanálise de Viena.

Também em 1933 emigrou para os Estados Unidos onde iniciou a prática da psicanálise infantil em Boston, associando-se à faculdade de medicina de Harvard.  Lecionou ainda nas universidades de Berkeley e Yale. Viveu nas reservas dos índios Sioux e as suas experiências pessoais em antropologia, muito citada em suas obras, deram-lhe uma forte perspectiva social e um sentimento de desenraizamento.

Em 1936 Erikson transferiu-se para um centro de estudos de relações humanas a fim de pesquisar sobre a influência da cultura e da sociedade no desenvolvimento infantil. Como resultado dessa pesquisa formulou a teoria segundo a qual as sociedades criam mecanismos institucionais que propiciam e enquadram o desenvolvimento da personalidade. Na década de 1940, Erikson criou o modelo exposto na obra Infância e sociedade (1950). Publicou livros sobre Martinho Lutero, Gandhi e Hitler e escreveu ensaios em que relaciona a psicanálise com a história, política, filosofia e teologia.

Criador da expressão 'crise de identidade', as suas concepções revolucionaram a psicologia do desenvolvimento, continuando até os dias de hoje a incentivar estudos.  Erik Erikson morreu em 1994, aos 92 anos de idade.

Sua teoria é bem mais flexível que a freudiana, pois para ele a personalidade não é imutável, padrões estabelecidos na infância são o tempo todo submetidos às novas experiências. Erikson afirmou que: "Se tudo tem inicio na infância, então tudo é culpa de outra pessoa, e assumir a responsabilidade por si mesmo é algo que já sofreu prejuízo”. Assim, na teoria de Erikson o indivíduo passa a ser corresponsável pelo seu próprio desenvolvimento.

Considerando o primeiro psicanalista infantil norte-americano ele escreveu ensaios que relacionam a psicanálise com a filosofia, a história, a política e a teologia. Suas concepções revolucionaram a psicologia do desenvolvimento e até os dias de hoje ele motiva estudos e reflexões.


 DESENVOLVIMENTO HUMANO EM OITO ESTÁGIOS




Erik Erikson elaborou uma concepção de desenvolvimento que ocorre ao longo de toda a vida e é influenciado pelas características dos contextos sociais em que o indivíduo se encontra. O desenvolvimento é descrito em oito estágios psicossociais que vão do nascimento até a morte. Em cada um desses estágios há uma função que, em forma de conflito ou crise, assume uma vertente positiva e uma negativa. Esses estágios contribuem para a formação da personalidade e por isso, são importantes mesmo depois de atravessado.  Também não têm uma duração detarminada uma vez que cada pessoa tem um ritmo cronológico específico. O núcleo de cada estágio é uma crise básica, que pode ser originada nos estágios anterioses e ter consequência nos estágios posteriores.

Primeiro Estágio: Confiança x Desconfiança (0 a 1 ano)

O primeiro estágio, chamado de Confiança x Desconfiança, ocorre a partir do nascimento até o primeiro ano de vida da criança. Através da relação com a mãe, a criança adiquire ou não confiança em si mesma e no mundo que a cerca. Se a criança se sentir amada e protegida conseguirá amadurecer de forma equilibrada. Se a criança não tem suas necessidade básicas (físicas e emocionais) atendidas poderá se tornar insegura sentindo medo e desconfiança em suas relações. Para Erikson, a importância da confiança básica se deve ao fato de implicar a ideia de que a criança “não só aprendeu a confiar na uniformidade e na continuidade dos provedores externos, mas também em si próprio e na capacidade dos próprios órgãos para fazer frente aos seus impulsos e anseios” (1987, p.102).

Segundo Estágio: Autonomia x Vergonha (2 e 3 anos)

O segundo estágio, Autonomia x Vergonha, ocorre no segundo e no terceiro ano e corresponde à fase anal freudiana. Nele, a criança passa a ter controle sobre sua musculatura e sobre suas necessidades fisiológicas, o que lhe passa a conceder certa autonomia. Além do controle da musculatura a criança passa a explorar seu próprio meio, dar os primeiros passos, querer tocar e conhecer as coisas que a cerca. Esse desenvolvimento físico vem junto com o intelectual e a criança começa a aprender as regras sociais, o certo e o errado, o que se pode ou não fazer gerando um conflito entre sua vontade e as regras sociais. Para ensinas as regras sociais os pais se utilizam de duas ferramenas, a vergonha e o encorajamento. O estabelecimento de regras deve ser feito de forma equilibrada. Rabello (2007) expõe que:


"Neste estágio, o principal cuidado que os pais têm que tomar é dar o grau certo de autonomia à criança. Se é exigida demais, ela verá que não consegue da conta e sua auto-estima vai baixar. Se ela é pouco exigida, ela tem a sensação de abandono e de dúvida sobre suas capacidades. Se a criança é amparada ou protegida demais, ela vai se tornar frágil, insegura e envergonhada. Se ela for pouco amparada, ela se sentirá exigida além de suas capacidades. Vemos, portanto, que os pais têm que dar à criança a sensação de autonomia e, ao mesmo tempo, estar sempre por perto, prontos a auxiliá-la nos momentos em que a tarefa estiver além de suas capacidades." (RABELLO, 2007, p. 6).


Terceiro Estágio: Iniciativa x Culpa (4 e 5 anos)

O terceiro estágio, chamado Iniciativa x Culpa, acontece por volta do quarto e quinto ano e corresponde a fase fálica freudiana. Nesta fase a criança já consegue distinguir o que pode fazer e o que não pode fazer e tem a capacidade de planejar suas ações dentro dos parâmetros aprendidos durantes as fases anteriores (confiança, desconfiança, autonomia e culpa). Nesse período ela também percebe as diferenças sexuais entre homens e mulheres e o complexo de édipo se torna latente com a fixação na figura do seu progenitor do sexo oposto. Já cientes das regras sócias que condenam a relação idealizada, as crianças experimentam a sensação de culpa por seus sentimentos. A energia desse desejo é revestida pra outras atividades socialmente aceitáveis e a criança fazem amigos, participam de jogos e aprendem a ler e a escrever.

Quarto Estágio: Indústria x inferioridade (6 a 11 anos)

O quarto estágio, Indústria x inferioridade ocorre junto com a fase escolar, antes da adolescência, normalmente entre os seis e os onze anos. Nesta idade a criança já se sente capaz de produzir, mas esse grau de produtividade está fortemente relacionado à como a criança resolveu os conflitos nas fases anteriores. Para produzir é necessário que ela tenha adquirido a confiança da primeira fase, a autonomia da segunda fase, e a iniciativa da terceira fase. Com confiança, autonomia e iniciativa a criança em seu quarto estágio será capaz de produzir e sentir-se competente. É uma fase sensível e se o grau de exigência for alto e a criança sentir que não consegue corresponder, ela pode regredir à estágios anteriores de desenvolvimento estabelecendo-se um sentimento de inferioridade que pode levar, por exemplo, à  bloqueios cognitivos. Nessa fase a criança deverá sentir-se integrada na escola, uma vez que novos relacionamentos interpessoais se fazem importante na construção de sua identidade. Esta é a fase a qual Freud deu menos importância chamada de latência por considera-la um período de adormecimento sexual.

Quinto Estágio: Identidade x Confusão (12 a 18 anos)

O quinto estágio, Identidade x Confusão de identidade, marca o período da adolescência e ocorre normalmente entre os 12 até os 18 anos. Nesta fase surgem questões como “O que eu sou?” “O que me tornarei” “O que eu quero?” “O que meus pais esperam de mim?”.  É uma fase de conflitos e de mudanças, o indivíduo já não é criança mais ainda não é adulto, precisando lidar com transformações físicas e hormonais em seu corpo e ao mesmo tempo invadido por um turbilhão de novas emoções, como os primeiros amores. Para lidar com todas as mudanças o adolescente precisa da segurança construída por seu ego em todos os estágios anteriores. Nessa busca por sua identidade ele se depara com o conflito entre as expectativas dos seus pais e as suas próprias. Essa fase também é marcada por características como tendência grupal, para sentir-se pertencente a algo; crises religiosas, atos de rebeldia, luta por liberdade e constantes flutuações de humor. O  adolescente também se influencia facilmente pelas opiniões alheias, e nesta tentativa se encaixar ele passa a agir de forma inconstante e contraditória. É neste estágio que se adquire uma identidade psicossocial. Se as questões forem bem resolvidas o adolescente sai desta fase consciente de sua indiossincrasia e de seu papel no mundo.

Sexto Estágio: Intimidade x Isolamento (20 a 30 anos)

A questão central do sexto estágio, chamado de Intimidade x Isolamento, é a capacidade de conviver com outro ego. Nesta fase, que ocorre dos 20 aos 30 anos, a identidade já deverá ter sido estabelecida na adolescência e o individuo estará amadurecido para viver uma intimidade afetiva e sexual com outra pessoa, construindo uma relação profunda e duradoura. As uniões e casamentos surgem nesta fase. O indivíduo precisa ter construído um ego forte ao longe de todas as fases anteriores para conseguir se unir a outra pessoa sem se sentir ameaçado ou anulado. Quando o ego não é suficientemente seguro, no caso das crises anteriores não terem desfechos positivos, a pessoa irá preferir o isolamento à união, pois terá medo de compromissos, numa atitude de “preservar” seu ego frágil.

Sétimo Estágio: Generatividade x Estagnação (30 a 60 anos)

A sétima fase, Generatividade x Estagnação ocorre por volta dos 30 aos 60 anos e caracteriza-se pela capacidade de gerar, de produzir qualquer coisa, seja filhos ou negócios, ou pesquisas. O indivíduo sente que precisa dar sua contribuição ao mundo, gerar frutos, ensinar o que aprendeu para, dessa forma, deixar sua presença registrada. Segundo Erikson, as pessoas que são capazes de olharem para fora de si, para a família, terão a sensação de estarem contribuindo para as futuras gerações. Os indivíduos que não constituem família poderão sentir-se estagnados na meia idade. A vertente negativa leva o indivíduo à estagnação, a sua não produtividade, não contribuição para o mundo devido à centralização em si próprio.



Oitavo Estágio: integridade x Desespero (após os 60 anos)

Por fim, o oitavo estágio, chamado de Integridade x Desespero, ocorre a partir dos 60 anos. É nesta fase que o indivíduo faz uma reflexão sobre seu passado, um balanço de suas conquistas e fracassos. É o final do ciclo psicossocial que pode ter um desfecho positivo ou negativo. No caso positivo, o indivíduo sente-se em paz, por ter vivido bem sua vida, por ter produzido, por valorizar as coisas que gerou como a família, os amigos ou os negócios. No desfecho negativo o indivíduo vivencia um sentimento de desespero, cheio de arrependimentos e lamentações, lembrando-se dos erros com a sensação de tempo perdido e a impossibilidade de recomeçar.
Se a pessoa está satisfeita com a vida que teve ela aceitará a morte com integridade. Citando Erikson, a criança saudável não teme a vida, e o idoso saudável não teme a morte.  Para Rabello (2007).


"Agora é tempo do ser humano refletir, rever sua vida, o que fez, o que deixou de fazer. Pensa principalmente em termos de ordem e significado de suas realizações. Essa retrospectiva pode ser vivenciada de diferentes formas. A pessoa pode simplesmente entrar em desespero ao ver a morte se aproximando. Surge um sentimento de que o tempo acabou, que agora resta o fim de tudo, que nada mais pode fazer pela sociedade, pela família, por nada. São aquelas pessoas que vivem em eterna nostalgia e tristeza por sua velhice. A vivência também pode ser positiva. A pessoa sente a sensação de dever cumprido, experimenta o sentimento de dignidade e integridade, e divide sua experiência e sabedoria. Existe ainda o perigo do indivíduo se julgar o mais sábio, e impor suas opiniões em nome de sua idade e experiência." (RABELLO, 2007, p. 11).

7 comentários:

  1. Concordo com muitas dessas contribuições de Erikson... O tempo todo estamos nos "reconstruindo", nos "recompondo"... e cada fase traz os seus principais movimentos de reordenação da identidade do sujeito... Enfim, da o que se pensar...

    acho que deve mesmo se divulgar mais textos sobre ele... ta de parabens!!

    ps.: sua foto da caixa de pandora ta linda! :)

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  2. Quel,

    eu ainda não conhecia nada sobre o Erik Erikson, adorei a leitura e achei interessante demais a abordagem dele.
    De alguma forma, no entanto, nas minhas reflexões, tenho entendido que estamos sempre em processo, e somos moldados o tempo todo ao longo da existência.

    Simplesmente adorando seu Blog!

    Como disse Scheilla, a foto da caixa de Pandora ta linda! ;)

    ps.: Quel, não pare de tuitar e de escrever no Blog nunca! rs

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  3. Que homem incrível!
    Nunca havia houvido falar de Erikson, sou completamente ignorante nessa área então, seu blog me ajuda pra caramba!

    Exercitando minha memória nada boa, lembro de fases ou as associo com pessoas próximas, e fico extasiado com as coincidências e consequências do "cumprimento", ou não, desses estágios.

    Me lembro das aulas de filosofa ao dizer que, sem dúvida "O homem é feito de experiências".

    BTW, quinto estágio sucks!

    Ps:desculpe pela demora, vou guardando pra ler depois.

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  4. Gostei muito deste artigo sobre Erik Erikson e achei que suas teorias vêm nos mostrar muitas coisas que acontecem conosco que não entendemos e se encontram numa raiz qualquer destas teorias relatadas. Foi ótimo.o artio e muito completo. Parabéns

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  5. Gostei muito deste artigo sobre Erik Erikson e achei que suas teorias vêm nos mostrar muitas coisas que acontecem conosco que não entendemos e se encontram numa raiz qualquer destas teorias relatadas. Foi ótimo.o artio e muito completo. Parabéns

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