domingo, 23 de agosto de 2015

Livro: O Menino do Dedo Verde (1957)






Raquel Rocha
Economista, Comunicóloga, Psicanalista e 
Especialista em Saúde Mental
Membro da Academia de Letras de Itabuna



Do escritor francês Maurice Druon. É o único livro fictício do autor e também o único com  linguagem infantil que o autor escreveu. Apesar da linguagem infantil, este é um livro que parece ter sido escrito para adultos.  A nota à edição escrita pelo tradutor Dom Marcos Barbosa fala exatamente sobre isso.

"Pois certas obras não transcendem apenas as fronteiras dos países, mas também as fronteiras das idades: disfarçando a profundidade de suas mensagens na singeleza de um livro para crianças, dirigem-se realmente aos adultos. Só eles compreenderão mil coisas ditas entre as linhas ou sugeridas por vários símbolos."

Por sinal, Dom Marcos Barbosa foi também o tradutor de O Pequeno Príncipe. E são livros bem parecidos; ambos trazem a sabedoria na inocência de uma criança mas cada um com sua grandeza.

O livro conta a história de Tisto, um menino rico, bonito, com pais maravilhosos. Ele tinha sorte, seu pai era dono da maior fábrica de canhões do mundo. Tisto foi criado em meio ao luxo, numa casa maravilhosa cheia de criados. O livro tem uma linguagem infantil, inquieta, inocente: ele descreve os personagens de uma forma toda particular.

Apesar de ter tudo, Tisto era uma criança diferente das outras e essa diferença ficou perceptível no dia em que Tisto entrou para a escola. O menino simplesmente não conseguia assistir as aulas e por mais que tentasse sempre acabava dormindo. Tirou vários zeros e foi expulso da escola. Nesse momento da expulsão de Tisto nós nos deparamos com um dos mais belos trechos da obra:

“A preocupação é uma ideia triste que nos comprime a cabeça ao despertar e permanece ali o dia todo. A preocupação se serve de qualquer meio para penetrar nos quartos; ela se insinua como o vento no meio das folhas, monta a cavalo na voz dos pássaros, desliza pelos fios da campainha.”

Depois de muita preocupação com a expulsão de Tisto, seus pais resolvem aplicar um novo método de educação que seria o aprendizado através da observação do mundo.

Tisto descobre então, que o mundo fora dos muros da sua mansão que brilha não é tão perfeito. Uma das pessoas escolhidas para apresentar o mundo a Tisto é o velho jardineiro da mansão e é ele quem descobre que Tisto tem o dedo verde.

Eu tenho um carinho todo especial por esse livro porque meu professor de Literatura falava muito dele. Numa cidade pequena que não tinha livrarias, numa época que não tinha internet, era quase impossível encontrá-lo. Fiquei com vontade de lê-lo até que um dia, em uma das tardes em que eu me refugiava na biblioteca, encontrei acidentalmente um exemplar empoeirado dele. Estava perdido numa prateleira, sem ser emprestado havia anos. E quando encontrei esse livro, era como se eu tivesse encontrado o mais valioso tesouro do mundo.

Dedico esta resenha, que é mais uma declaração de amor, ao meu professor de literatura Jalon Leal, o qual, um dia, me falou sobre esse livro pela primeira vez.



Trechos, Frases, Citações

“ — Então, Tistu — perguntou ele— que foi que você aprendeu? Que sabe de medicina?
  — Aprendi — respondeu Tistu — que a medicina não pode quase nada contra um coração muito triste. Aprendi que para a gente sarar é preciso ter vontade de viver. Doutor, será que não existem pílulas de esperança?O Dr. Milmales ficou espantado com tanta sabedoria num garoto tão pequeno.—Você aprendeu sozinho a primeira coisa que um médico deve saber.
   — E qual é a segunda, Doutor?
  — É que para cuidar direito dos homens é preciso amá-los bastante"

 (Livro: O Menino do Dedo Verde de Maurice Druon)


 "Chora, Tistu, chora. É preciso. As pessoas grandes não querem chorar, e fazem mal, porque as lágrimas gelam dentro delas, e o coração fica duro.”

 (Livro: O Menino do Dedo Verde de Maurice Druon)


“— Tistu, não se distraia! Que é a ordem? — perguntou o Sr.Trovões em tom severo.
  — A ordem? É quando a gente está contente — respondeu Tistu.
Hum, hum!" resmungou o Sr. Trovões, e suas orelhas ficaram mais vermelhas que de costume.
 — Eu já reparei — prosseguiu Tistu sem se intimidar — que o meu pônei Ginástico, por   exemplo, quando está bem alimentado, bem penteado e tem a crina trançada com papel de chocolate, se mostra muito mais contente que quando está coberto de lama. E sei também que o jardineiro Bigode sorri para as árvores que estão bem podadas. A ordem não é isso?"

 (Livro: O Menino do Dedo Verde de Maurice Druon)


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