Raquel Rocha
Economista, Comunicóloga, Psicanalista e Especialista em Saúde Mental
Membro da Academia de Letras de Itabuna
A Esquizofrenia Residual (F20.5) pode ser definida como o estágio
crônico da esquizofrenia no qual houve a regressão de um quadro inicial para
uma espécie de quadro tardio onde ocorrem predominantemente sintomas negativos
de longa duração, mas não necessariamente irreversíveis. Na esquizofrenia
residual houve um ou mais
episódios de esquizofrenia, mas na maior parte do tempo o indivíduo não
apresenta sintomas psicóticos positivos como delírios, alucinações,
perturbações, comportamentos bizarros e agitações psicomotoras.
De acordo com o CID 10, para o diagnóstico da Esquizofrenia
Negativa, é necessário que no passado, tenha havido, pelo menos um episódio
psicótico bem definido, satisfazendo os critérios gerais para diagnóstico da
Esquizofrenia. Também é necessário um período de pelo menos um ano durante o
qual a intensidade e frequência dos sintomas floridos (delírios e alucinações)
foram mínimos ou substancialmente reduzidos e a síndrome esquizofrênica
negativa esteve presente. É necessário também que seja constatada a ausência de
demência ou outro transtorno mental orgânico e de depressão crônica ou
institucionalismo suficientes para explicar os sintomas negativos.
Os sintomas negativos da psicose são verificamos mais facilmente
como o embotamento afetivo, retardo psicomotor, pobreza da quantidade ou do
conteúdo do discurso, hipoatividade, avolição, comunicação não verbal pobre
(expressão facial, olhar, modulação de voz e postura) baixo desemprenho social
e negligência com cuidados pessoais. Pode ocorrer também a presença de sintomas
positivos atenuados como discurso levemente desorganizado, crenças infundadas e
comportamento excêntrico.
Nesta fase residual pode ocorrer ainda isolamento social, o
comportamento excêntrico, emoções pouco apropriadas e pensamentos
ilógicos. Pode ocorrer a remissão completa da esquizofrenia tipo residual
da mesma forma que ela pode permanecer por muitos anos. Entre os critérios para
Diagnósticos da Esquizofrenia Residual (F20.5) são: ausência de delírios e
alucinações, discurso desorganizado e comportamento amplamente
desorganizado ou catatônico. O Esquizofrenia Residual inclui: Esquizofrenia
indiferenciada crônica, Estado esquizofrênico residual e Restzustand.
No DSM IV a Esquizofrenia residual recebe o código 295.6, os
critérios para diagnóstico são basicamente os mesmos do CID 10. No entanto o
DSM IV aponta que a Esquizofrenia do tipo Residual pode ser uma transição entre
um episódio manifesto e a remissão completa dos sintomas, conforme citações em
inglês no rodapé deste texto.
Apesar da presença no CID 10 e no DSM –IV o DSM-5 não traz mais a
Esquizofrenia Residual. O manual abandonou a divisão da esquizofrenia em
subtipos: paranóide, desorganizada, catatônica indiferenciada e residual,
alegando que os subtipos apresentavam pouca validade e não refletiam diferenças
quanto ao curso da doença ou resposta ao tratamento. No geral, as mudanças no
DSM-5 desencadearam polêmicas e dividiram a opinião de especialistas, recebendo
críticas de profissionais renomados como do psiquiatra americano Allen Frances
que coordenou a elaboração do DSM-IV.
Mesmo ausente na última versão do DSM , segue aqui este texto que
é resultado de pesquisas que venho fazendo a respeito deste transtorno nos
últimos 4 anos, recebendo inclusive relatos de pessoas que cuidam de pacientes
com o transtorno e relatos esses que corroboram com as diretrizes diagnósticas
no CID 10 e DSM IV.
NOTAS:
Embotamento afetivo é a perda da capacidade de demonstrar emoções e
sentimentos. O individuo não manifesta expressão de alegria, tristeza, raiva ou
dor. O embotamento afetivo é comum em alguns casos de esquizofrenia mas também
pode ocorrer em depressões muito grave.
Avolição é perda de interesse por fazer coisas
Sintomas positivos são aqueles acrescentados pela doença.
Sintomas negativos são as incapacidades que a doença impõe ao
indivíduo.
Citações
“The Residual Type of Schizophrenia should be used when there has been at least one episode of Schizophrenia, but the current clinical picture is without prominent positive psychotic symptoms (e.g., delusions, hallucinations, disorganized speech or behavior). There is continuing evidence of the disturbance as indicated by the presence of negative symptoms (e.g., flat affect, poverty of speech, or avolition) or two or more attenuated positive symptoms (e.g., eccentric behavior, mildly disorganized speech, or odd beliefs). If delusions or hallucinations are present, they are not prominent and are not accompanied by strong affect. The course of the Residual Type may be time limited and represent a transition between a full-blown episode and complete remission. However, it may also be continuously present for many years, with or without acute exacerbations.”
(DSM IV, Diagnostic And Statistical Manual Of Mental Disorders pág 289)
"A type of Schizophrenia in which the following criteria are met: A. Absence of prominent delusions, hallucinations, disorganized speech, and grossly disorganized or catatonic behavior. B. There is continuing evidence of the disturbance, as indicated by the presence of negative symptoms or two or more symptoms listed in Criterion A for Schizophrenia, present in an attenuated form (e.g., odd beliefs, unusual perceptual experiences)."
(DSM IV, Diagnostic And Statistical Manual Of Mental Disorders pág 290)
Como Referir: ROCHA, Raquel. Esquizofrenia Residual. Disponível em: <http://soliloquiospsicanaliticos.blogspot.com > Acesso em: __/__/____
Muito bom o o texto! Simples e dá bem para entender, acho que mesmo aqueles que não estão familiarizados com os termos. Tenho estudado as patologias mentais, não é o meu foco, pois eu me interesso pela manutenção da saúde, mas às vezes já pego a pessoa desorganizada.
ResponderExcluirEstou pensando em escrever um texto sobre como lidar com um parente ou amigo com transtorno mental. Fica a dica, talvez fosse legal vc escrever também, acho que esta informação está faltando, os familiares ficam muito perdidos e abandonados em suas angústias...
Obrigada pela visita ao Múltiplas! Foi uma honra e fiquei feliz em saber que não fiz feio nos conceitos psicanalíticos!
Bjs!
É impressionante o modo com vc consegue fazer os conteúdos específicos de psicanálise tão acessíveis, amiga!
ResponderExcluirBelo trabalho...
To sem palavras! (piada interna...rs)
bjaoooooo!
Adorei!!
ResponderExcluirDifícil isso da gente tentar entender as coisas pela via psicanalítica, no entanto, se apropriar de termos médicos.
Muito bom, fácil de entender, leitura ultraproveitosa... A informação dividida move o Mundo. Por issso, muito obrigado! Jorge Sunny.
ResponderExcluirMuito bom. Obrigado pelo ótimo conteúdo, acessível a todo o entendimento. Jorge Sunny
ResponderExcluirOlá,
ResponderExcluirFalo de Portugal e apreciei bastante este seu artigo, sintético e bastante esclarecedor. Estou neste momento a trabalhar com um utente idoso com diagnostico de esquizofrenia residual e se bem que o mesmo tem respondido bem a minha aproximação e tentativa de estabelecer conversações, gostaria de fazer algo mais.
Existe de facto um embotamento emocional da parte do próprio, se bem que sorri diversas vezes durante as nossas conversas, no entanto gostava de trabalhar com ele mais a vertente cognitiva, caso este me permita.
Posto isto gostaria de saber que ferramentas e estratégias me aconselha para realizar um bom trabalho neste sentido.
Obrigado e continue com este bom trabalho
Olá,
ResponderExcluirFalo de Portugal e apreciei bastante este seu artigo, sintético e bastante esclarecedor. Estou neste momento a trabalhar com um utente idoso com diagnostico de esquizofrenia residual e se bem que o mesmo tem respondido bem a minha aproximação e tentativa de estabelecer conversações, gostaria de fazer algo mais.
Existe de facto um embotamento emocional da parte do próprio, se bem que sorri diversas vezes durante as nossas conversas, no entanto gostava de trabalhar com ele mais a vertente cognitiva, caso este me permita.
Posto isto gostaria de saber que ferramentas e estratégias me aconselha para realizar um bom trabalho neste sentido.
Obrigado e continue com este bom trabalho
Olá Luis, Obrigada pela sua visita. Fico muito contente em conhecer pessoas como você, que tem um interesse genuíno pelo paciente e vontade de fazer o melhor. O que vou escrever aqui não são conselhos, são apenas ideias trocadas. Eu acredito que a gente nunca pode olhar pro paciente com rótulos, é ótimo que você tenha um diagnóstico mas procure ter sempre um olhar único para seu paciente, como se não existisse mais ninguém no mundo igual a ele (e não existe mesmo). O fato de ele permitir uma relação entre vocês e conseguir sorrir demonstra que ele tem um grande potencial de melhora e até mesmo evolução no sentido cognitivo que é o que você quer. E aí entra outra questão o importante: O que ele quer? Procure sempre ouvi-lo, mesmo que ele seja repetitivo ou pareça confuso. Evite grandes perturbações emocionais, o paciente portador de esquizofrenia se assusta com tudo que mexe no que ele tá acostumado. Verifique se existe alguma atitude de auto sabotamento; se houver trabalhe descobrindo a origem e tentando extinguir os sintomas. Veja pelo que ele realmente se interessa (eles se interessam por poucas coisas) e trabalhe seu objetivo a partir do interesse dele. Com paciência e carinho você vai perceber que os resultados vão surgindo aos poucos. Boa Sorte! (Aos dois)
ExcluirOlá Raquel, Obrigado pela resposta. Vou tentar aplicar as suas sugestões, tendo sempre em mente, que cada pessoa é uma pessoa, com a sua genuinidade e personalidade próprias, independentemente de estar num estado mental alterado ou não. Infelizmente hoje é um dia menos bom :(....a senhora está um pouco baixo e sem grande vontade de interação...respeito isso e espero que amanhã seja um dia melhor!!
Excluirobrigado e bom trabalho
Oi Luis, Como está a evolução da sua paciente?
ExcluirOlá, só agora tive a oportunidade de voltar ao seu blog e deixo-lhe aqui o testemunho do que se passou com a utente de que falamos...Depois de algum acompanhamento e interacção muito simples que realizei com a utente, esta acabou, de uma forma espontânea por se integrar no restante grupo de utentes e está, nos dias que correm muito bem integrada e bem mais comunicativa e envolvida socialmente.Não deixa de ter uns dias menos bons, pois sabemos que os sintomas desta doença são flutuantes, mas só mesmo em situações agudas se tende a isolar um bocadinho, para acabar com os "apitos na cabeça", como ela o diz. Enfim, sei dúvida um final feliz, que foi possível de uma forma simples, com apenas um bocadinho de atenção, companhia e afecto.Cumprimentos
ExcluirQue bom Luis, tenho certeza de que esses momentos de interação com o grupo fazem um bem enorme a ela. E aos poucos esses "menos bons" vão ficando mais raros e os momentos alegres se multiplicando. E não é assim com todos nós? Parabéns pelo trabalho e dedicação a paciente. Continue sempre assim e você vai colher resultados positivos em todos os seus casos. Deus te abençoe.
ExcluirEsqueci de deixar o meu contacto :) .... luiscadorio@gmail.com
ResponderExcluirÈ muito interessante a sugestão como lidar com este tipo de pessoa?. Tenho uma irmã assim esquizofrenia residual. Não sei como lidar com ela
ResponderExcluirEm breve vou fazer uma atualização deste post, que é o mais procurado aqui no blog. Aí vou colocar algumas dicas bem práticas.
Excluiracho q me reconheço em algo disso ai
ResponderExcluiracho q me reconheço em algo disso ai
ResponderExcluirExcelente texto!
ResponderExcluirola pessoal falo de Portugal, gostei imenso do artigo.sou Djalo tenho 25anos foi diagnosticado esquizofrenia a 1 anos traz quando estava tirar a licenciatura em ciências politicas e trabalhar porque era uma pessoa cheia de energia.agora a minha vida virou um inferno porque tenho esquizofrenia residual passos os dias todos em casa sem poder fazer nada, espero poder voltar a vida activa.e gostava imenso de conhecer pessoa com esquizofrenia residual meu mail: djalo2@hotmail.com
ResponderExcluirMuito interessante as informações, mas nós familiares necessitamos de mais informações: como encontrar alguma atividade para ajudar, como evolui a partir desse estágio, é muito difícil e as informações e orientações são muito restritas.
ResponderExcluirabçs
Muito interessante as informações, mas nós familiares necessitamos de mais informações: como encontrar alguma atividade para ajudar, como evolui a partir desse estágio, é muito difícil e as informações e orientações são muito restritas.
ResponderExcluirabçs
Olá...
ResponderExcluirMuito bom o texto.
Tenho esquizofrenia residual, e na maior parte do tempo, não consigo entendê-la. Só entendo o que acontece quando não estou medicado. Mas, enfim, de uns tempos pra cá estou sempre medicado e, com isso, posso levar uma vida mais próxima do normal possível. O texto foi muito bom para ajudar a entender melhor.
Parabéns pelo texto. Assim posso entender melhor um familiar que sofre desta doença.
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