Por Raquel Rocha
Psicanalista e Especialista em Saúde Mental
Especialista em Neuropsicologia
Pós-graduanda em Terapia Familiar
Comunicóloga,
Economista
Membro da Academia de Letras de Itabuna
A Psicologia Hospitalar tem como
objetivo minimizar o sofrimento do sujeito em processo de hospitalização.
Diferentemente da medicina, o foco da psicologia hospitalar não está na
patologia, mas nas consequências emocionais do adoecimento.
A internação pode acabar se tornando a
fase mais difícil do adoecimento. Ao ser hospitalizado o paciente perpassa por
um processo de despersonalização, perdendo sua autonomia, passando a ser um
número de prontuário. Muitas vezes o olhar da equipe hospitalar não é para a pessoa
do paciente, mas para sua patologia, seu câncer, seu AVE, sua inflamação, seu
diabetes. O sujeito em sua integralidade e subjetividade perde sua autonomia e
deixa de ter significado próprio.
A hospitalização restringe o espaço
vital do paciente, implica em uma desorganização na rua rotina, longe do
conforto do seu lar o paciente já não escolhe como conduzir sua rotina, não
escolhe o que comer, que horas tomar banho, que horas acordar, em muitos casos
não escolhe a hora das suas visitas. Aliado a retirada de seu espaço e de sua
liberdade de decidir seu dia-a-dia o paciente também passa por processos
dolorosos, muitas vezes invasivos. O próprio diagnóstico do paciente se traduz,
por vezes, em instrumento de estigmatização e preconceito, ignorando-se todo o
não dito, não escutado por trás da patologia.
Até então, os hospitais, com raras
exceções, seguem uma estrutura rígida, engessada no que tange a horários,
entradas e saídas de pessoas, alimentos e objetos pessoais. Algumas regras são necessárias para o bom
funcionamento da instituição mas nem por isso deixam de provocar desconforto e
sofrimento no paciente, aspectos esses que precisam ser minimizados o máximo
possível.
No que tange à relação médico paciente,
com exceção dos que possuem uma visão voltada para a humanização, vemos que, na
maior parte das vezes, essa relação já não tem tanto espaço para o diálogo e é
cada vez mais substituída por exames, ignorando-se que por trás do diagnóstico
há um nome, uma história, uma pessoa que deseja, que sente, que sofre. É preciso que
equipe-instituição hospitalar veja o paciente como um todo indivisível. De
acordo com a Política de Humanização da Assistência à Saúde “Uma das diferenças
entre o ser humano os animais irracionais é que seu corpo biológico é envolvido,
desde a infância, por uma rede de imagens e palavras, apresentadas primeiro
pelos pais, pelos familiares e, em seguida, pela escola, pelo trabalho, enfim,
por todas as relações sociais. É esse ‘banho’ de imagem e de linguagem que vai
moldando o desenvolvimento do corpo biológico, transformando-o em um ser
humano, com um estilo de vida singular.”
A função do Psicólogo Hospitalar é
justamente considerar toda subjetividade do sujeito, minimizando seu sofrimento
psíquico, até mesmo porque este sofrimento pode implicar no agravamento da
própria doença. Para Simonetti (2004, p. 29) “a psicologia hospitalar é o campo
de entendimento e tratamento dos aspectos psicológicos em torno do
adoecimento”. O Psicólogo olha para o paciente em toda sua singularidade, alguém
que sente angústia, tristeza, ansiedade, medo, alguém que tem vontade própria,
uma história de vida e todo um processo de subjetivação.
A psicoterapia dentro de um hospital não
segue os moldes de uma um setting terapêutico tradicional. O psicólogo tem que
lidar com o desconforto do paciente, as dores físicas, as interrupções. Cada
sessão tem início, meio e fim, pois o profissional não sabe quantos encontros
ainda terá com o paciente. Além do paciente o profissional atua junto aos
familiares e à equipe de serviço. Devido à multiplicidade das demantas, por
mais que se estude sobre a psicologia hospitalar o aprendizado real ocorre na
experiência que se desenha no cotidiano da atuação em um hospital, onde o
psicólogo, muitas vezes, passa por situações inusitadas. “Tratar a pessoa, e
não a doença foi um dos objetivos mais valiosos em psicologia hospitalar, e tal
só se possível quando se conhece minimamente a vida da pessoa seus interesses,
seus assuntos favoritos, seu trabalho, sua condição de vida, etc. e uma ótima
maneira de se alcançar esse conhecimento é conversando de maneira
descompromissada com o paciente.” (SIMONETTI, 2004, p. 125).
Entre as atividades do psicólogo da
Saúde definidas pelo Conselho Federal de Psicologia (2003a), cabe ao psicólogo
hospitalar: atendimento psicoterapêutico, organizar e atuar em psicoterapia de
grupo, grupos de psicoprofilaxia e psicoeducação, atendimentos em ambulatório,
atendimentos em unidade de terapia intensiva, pronto atendimento nas
enfermarias, psicomotricidade no contexto hospitalar, avaliação diagnóstica,
psicodiagnóstico, consultoria e interconsultoria e atuação em equipe
multidisciplinar
A Psicologia hospitalar já nasce em
consonância com as diretrizes da Política de Humanização da Assistência à Saúde
lançada 2002:
Mas então, o que
é humanizar? Humanizar é garantir à palavra a sua dignidade ética. Ou seja,
para que o sentimento humano, as percepções de dor ou de prazer sejam
humanizadas, é preciso que as palavras que o sujeito expressa sejam
reconhecidas pelo outro. É preciso, ainda, que esse sujeito ouça do outro
palavras de seu reconhecimento. É pela linguagem que fazemos as descobertas de
meios pessoais de comunicação com o outro. Sem isso, nos desumanizamos
reciprocamente.
A introdução do psicólogo no hospital
deve contribuir para maior bem estar do paciente que se percebe acolhido e
escutado, possibilitado de compreender e ressignificar seu adoecimento e todas
as implicações do mesmo. O psicólogo deve contribuir, ainda, para maior
integração entre toda a equipe porque diálogo, o vínculo, o respeito e a
valorização entre os profissionais implica em maior qualidade de trabalho e
maior eficácia no atendimento ao paciente. “Sem comunicação, não há
humanização. A humanização depende de nossa capacidade de falar e de ouvir,
depende do diálogo com nossos semelhantes.” (PHAS)
REFERÊNCIAS
Conselho Federal de Psicologia
Política de Humanização da Assistência à
Saúde (PHAS)
RODRÍGUEZ-MARÍN, J. En Busca de un
Modelo de Integración del Psicólogo en el Hospital: Pasado, Presente y Futuro
del Psicólogo Hospitalario. In Remor, E.; Arranz, P. & Ulla, S. (org.). El
Psicólogo en el Ámbito Hospitalario. Bilbao: Desclée de Brouwer Biblioteca de
Psicologia, (2003).
SIMONETTI, A. (2004). Manual de
Psicologia Hospitalar. São Paulo: Casa do Psicólogo.
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