sexta-feira, 29 de maio de 2015

PELO FIM DAS CAMPANHAS POLÍTICAS MILIONÁRIAS

Por Raquel Rocha
Economista, Comunicóloga, 
Psicanalista e Especialista em Saúde Mental
Pós-graduanda em Neuropsicologia
Membro da Academia de Letras de Itabuna




                                                                               
Campanha eleitoral deveria ser assim: Uma cadeira, um pano branco no fundo, uma câmera e um cinegrafista.

Bota na cadeira o sujeito que quer assumir um cargo de governança e manda ele falar do que já fez e das suas propostas de governo. Todos os candidatos na mesma cadeirinha, com o mesmo paninho branco atrás, cara a cara com a câmera, sem superprodução, sem campanhas milionárias, sem equipe de cinema escrevendo roteiros e preparando VTs emocionantes. E se o candidato mentir a respeito de algum dado, terá a candidatura caçada imediatamente.

O cenário é simplista, eu sei. Simples, sóbrio, modesto e barato. Essa padronização de baixo custo começaria diminuindo a discrepância absurdas entre campanhas eleitorais. Hoje, o candidato é eleito não pelos seus méritos, propostas ou capacidade de governar, mas pela quantidade de dinheiro gasto em sua campanha. Isso torna faccioso todo processo eleitoral, e no fim acaba-se elegendo, na maioria das vezes, péssimos governantes.

Mas essa desigualdade no processo eleitoral não é o mais nefasto entre os efeitos das campanhas milionárias. O pior acontece depois, na hora de pagar a conta. Sendo o financiamento público ou privado, essa conta sempre será paga. Porque as empresas que doam milhões para determinados partidos certamente não o fazem por caridade, simpatia ou altruísmo, o fazem na certeza de receber algo em troca no futuro.

As campanhas eleitorais no Brasil estão entre as mais caras do mundo. Em 2004 a campanha de um candidato à presidência no Brasil foi a segunda mais cara no mundo, só perdendo para a de Bush, nos Estados Unidos. E com uma diferença: lá eles declaram todas as doações recebidas e todos os gastos realizados.

Todos os gastos de uma campanha deveriam ser rigorosamente monitorados, viagens, santinhos, carros de som, trios elétricos, fogos de artifícios, pagamento de artistas, bandeiras... mas abordo os gastos com propaganda na TV porque estes representam a maior parte do custo de uma campanha eleitoral.

É justamente das campanhas políticas milionárias que nascem as maiores mazelas do nosso sistema político: delas nascem as licitações fraudulentas, as PLs que favorecem as empresas X ou Y, os apadrinhamentos, os cargos comissionados, as indicações, os funcionários fantasmas.

Por conseguinte temos a merenda escolar de péssima qualidade, porque a empresa X que “ganhou” a licitação financiou a campanha do governo atual; a estrada esburacada porque a empresa Y que também “ganhou” a licitação, financiou a campanha, e assim por diante.

De onde sai o dinheiro para pagar esses contratos milionários em troca de produtos e serviços ordinários? Do dinheiro público, do meu e do seu, da saúde, da educação, da segurança, etc. Em suma: campanhas milionárias, contratos milionários, desvios milionários. Todo mundo de rabo preso! Todo mundo devendo favor a todo mundo e no fim essa conta é sempre paga com dinheiro público, independente do financiamento ser público ou privado.

Por tudo isso, e muito mais, volto a propor a cadeira, o pano branco, a câmera e a sinceridade. E que, de uma vez por todas, acabem com as campanhas milionárias, porque o mal só é cortado definitivamente, se o cortarmos pela raiz.



Nenhum comentário:

Postar um comentário