segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Não leia se você quiser tomar Suco Verde


Você dorme às 4 da manhã estudando. Acorda às 6. Acorda não, você zumbisa. Daí você lembra que dizem que o tal suco verde dá energia e finalmente toma coragem de fazer a tal receita após semanas comprando couve e vendo o couve amarelar. O mundo todo está tomando menos você. É um suco mágico, emagrece, desintoxica, uma dessas coisas que inventam e você acredita que vai mudar sua vida. Dieta Detox é o que há e você está se sentindo demodê (palavra que minha professora de 80 anos usava há 20 anos).

Você se arrasta até a cozinha enguiando só de pensar no gosto da mistura. Vai até o liquidificador, coloca o couve (acho um crime alguém ingerir couve sem ser acompanhado de uma boa feijoada.) Coloca o abacaxi (pra ver se tira o gosto do couve). Abacaxi com casca porque minha mãe passou a vida me dizendo que a “vitamina tá na casca”.  Algumas rodelas de pepino (penso que pepino foi feito exclusivamente para saladas, no máximo para colocar nos olhos cansados) Uma folhinha de hortelã (que foi feito para molhos à bolonhesa). Salsinha, um pouco de brócolis, um limão. Não, dois limões, (para ver se tira o gosto de tudo).

Olho para o gengibre. O gengibre olha para mim. Tenho certeza de que se eu colocar o gengibre vou jogar o liquidificador de suco todo fora. Então deixo o gengibre pro yakisoba.

Bato tudo. O resultado é um mingau verde que eu não quero nem cheirar. Passo tudo numa paneira. (Penso como alguém consegue tomar  sem coar). Bagaços pra todo lado. A cara não melhora. Coloco um pouco de mel e experimento. Um horror... azedo, amargo, temperado, tudo ao mesmo tempo. Coloco açúcar mascavo. Ainda tá horrível. Coloco gelo, muito gelo. Quando a coisa é bem gelada você não sente o gosto direito. Gelo anestesia. Preciso anestesiar minha boca, garganta, estômago e alma para conseguir beber aquilo. Não adianta.

Coloco açúcar normal, coloco mais gelo. Coloco mais açúcar, coloco mais gelo. O liquidificador transborda. A cozinha tá uma bagunça. Talos, cascas,  bagaços e respingos de suco por toda parte.

É agora ou nunca: Coloco um pouco do suco em um copo de 200 ml. Tem que beber na hora se não perde as propriedades. Tampo o nariz e gute, gute, gute. Parece que estou bebendo uma salada doce. Eca. Achei que o gosto do couve seria pior mas é o pepino que me atinge com um golpe de misericórdia. Chego valentemente até o final do pequeno copo. Olho pro liquidificador ainda cheio e penso “Vou jogar esse restinho fora só porque não adianta guardar pra beber depois”.

A cozinha ta uma zona de guerra entre alienígenas. O sono continua. Estou atrasada  para começar a trabalhar. Respiro fundo lembrando da Yoga (isso sim é milenar), elevo meus pensamentos ao cosmos e faço um bom e velho cappuccino de chocolate.

Odeio modinhas.

Me rendo à desonra. Será mais fácil aceitar me tornar uma velha enrugada, gorda e intoxicada do que passar por isso todos os dias.

Aceito o meu destino infame para sempre. Ou pelo menos até que surja uma nova receita (ou semente, erva, fruta) que prometa mudar a vida de todos de forma definitiva até que seja substituída por outra.




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