quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Filme A Menina que Roubava Livros

The Book Thief


Raquel Rocha
Comunicóloga, Psicanalista e Especialista em Saúde Mental 

Não começarei esta resenha dizendo que o livro é melhor que o filme. Porque são duas formas diferentes de contar a mesma história. E, neste caso, uma belíssima história mostrada de forma tocante tanto no livro de Markus Zusak quanto no filme de Brian Percival.
A história é narrada pela Morte, que encontra Liesel Meminger (Sophie Nélisse) pela primeira vez, em 1939, numa viagem de trem. Sua mãe, uma comunista, está levando seus dois filhos para entregá-los a um casal alemão e o irmão mais novo de Liesel acaba morrendo durante a viagem. A partir desse momento a morte fica encantada com a menina e passa a acompanhá-la durante os 4 anos seguintes.
Liesel é entregue ao casal Hans e Rosa Hubermann. Ela, uma mulher amargurada com as dificuldades que a família vem passando. Ele, um adorável tocador de acordeom que não perdeu a doçura. É nesse contexto que Liesel vive sua infância, em meio às dificuldades da Segunda Guerra, as atrocidades com os judeus, a amizade com Rudy Steiner e um segredo que ela tem que esconder de todos: um judeu abrigado em seu porão.
O primeiro livro que Liesel rouba é no enterro do seu irmão, um manual do coveiro que o mesmo deixa cair. Ela não sabe ler, mas guarda aquele livro como uma relíquia. E é com ele que seu novo pai a ensina a ler. Eles não têm papel e as palavras são anotadas nas paredes do porão para que Liesel as aprenda. O segundo ela rouba das cinzas de uma grande fogueira de livros feita pelos nazistas. E os seguintes ela passa a roubar entrando pela janela na biblioteca do prefeito. Seu pai acaba se tornando uma espécie de cúmplice. Através dos livros Liesel foge da dura realidade em que vive, alimenta sua imaginação de menina e constrói uma poética relação com o jovem judeu.
O ponto alto do filme é a escolha do elenco, Geoffrey Rush, que interpretou com maestria Lionel Logue em The King's Speech, dá um novo show como o adorável Hans. É impossível não amar aquele velho de alma nobre, cujo sofrimento está explícito no olhar. Um homem bom que vê injustiças e nada pode fazer. Rosa, interpretada por Emily Watson, lembra um pouco a personagem Rose Narracott de War Horse. Ambas endurecidas por fora, mas com um enorme coração, mulheres que criticam, mas também defendem os seus como feras. Apesar das semelhanças com a personagem anterior, gosto da Rosa de Emily Watson e da forma lenta e crua com a qual ela conquista o público no decorrer da narrativa.
Outras atuações fortes são de Ben Schnetzer como o judeu Max Vandenburg, Sophie Nélisse como Liesel Meminger e Nico Liersch como o apaixonante Rudy Steine. Nesse filme parece que todos os atores se encaixaram perfeitamente nas imagens mentais que tínhamos dos personagens dos livros.

O ponto fraco é a falta de algumas explicações importantes. Mesmo não sendo possível transportar para o filme a mesma quantidade de detalhes do livro, percebo que o roteiro do filme deixou de lado pontos fundamentais que explicam a história, como o que aconteceu entre Hans e o pai do judeu para que Hans arriscasse sua vida e a de toda sua família abrigando o rapaz.
O diretor fez a feliz escolha de não apelar à violência. Com exceção de uma única cena na qual os judeus são arrancados de forma brusca de suas casas e lojas e espancados nas ruas, no restante do filme Brian não se utiliza desse artifício para mostrar as brutalidades ocorridas, que são do conhecimento de todos nós.

Um filme simples, mas, profundo, que mostra as atrocidades da guerra pelos olhos de seres humanos bons, que não perderam a capacidade de dar e receber amor. Pessoas que continuaram sendo pessoas quando o mundo parecia repleto de animais enlouquecidos pelo ódio. Apesar de narrado pela morte, diria que é um filme, acima de tudo, Humano.





Quotes do Livro

"Odiei as palavras e as amei, e espero tê-las usado direito."

"Estou sempre achando seres humanos no que eles têm de melhor e de pior. Vejo sua feiura e sua beleza, e me pergunto como uma coisa pode ser as duas."

“Sua voz era quase inaudível, mas os olhos gritavam mais do que nunca.”

"Estou sempre achando seres humanos no que eles têm de melhor e de pior. Vejo sua feiúra e sua beleza. E me pergunto como uma coisa pode ser as duas."

“Pode alguém roubar a felicidade? Ou será que ela é apenas mais um truque interno dos humanos?”

"Ela era a roubadora de livros que não tinha palavras. Mas, acredite, as palavras estavam a caminho e, quando chegassem, Liesel as seguraria nas mãos feito nuvens, e as torceria feito chuva."

"O silêncio não era quietude, nem calma, e não era paz."

Não quero ter esperança de mais nada. Não quero rezar para que Max esteja vivo e em segurança. Nem Alex Steiner, porque o mundo não os merece.

"O ser humano não tem um coração como o meu. O coração humano é uma linha, no passo que o meu é um círculo, e tenho a capacidade interminável de estar no lugar certo e na hora certa. A conseqüência disso é que estou sempre achando seres humanos no que eles têm de melhor e de pior. Vejo a sua feiúra e sua beleza, e me pergunto como uma mesma coisa pode ser duas. Mas eles têm uma coisa que eu invejo. Mais não seja, eles têm o bom senso de morrer.”


Markus Zusak — A Menina Que Roubava Livros



Ficha técnica A Menina Que Roubava Livros

Título Original: The Book Thief.
Origem: Estados Unidos / Alemanha, 2013.
Direção: Brian Percival.
Roteiro: Michael Petroni, baseado em livro de Markus Zusak.
Produção: Ken Blancato e Karen Rosenfelt.
Fotografia: Florian Ballhaus.
Edição: John Wilson.
Música: John Williams.

·         Sophie Nélisse como Liesel Meminger
·         Geoffrey Rush como Hans Hubermann
·         Emily Watson como Rosa Hubermann
·         Ben Schnetzer como Max Vandenburg
·         Nico Liersch como Rudy Steiner
·         Joachim Paul Assböck como Oficial Schutzstaffel
·         Sandra Nedeleff como Sarah
·         Hildegard Schroedter como Frau Becker
·         Rafael Gareisen como Walter Kugler
·         Gotthard Lange como Coveiro
·         Godehard Giese como polícia no comboio



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