Raquel Rocha
Economista, Comunicóloga, Psicanalista e Especialista em Saúde
Mental
Membro da Academia de Letras de Itabuna
Taare Zameen Par, filme
indiano de 2007, dirigido por Aamir Khan. No Brasil: Como estrelas na
Terra.
Ishaan é um
menino de 9 anos diferente das outras crianças.
Ele não tem amigos. Não consegue
aprender a ler ou escrever. Na verdade o menino não faz “nada” direito: Não
levanta na hora, se distrai durante banho, sequer amarra seu cadarço. Está
repetindo o terceiro ano e tudo indica que ele será reprovado de novo. É
rebelde, desobediente, enfrenta os meninos na rua, enfrenta seus pais. Brinca em horas sérias, desenha em vez de
estudar.
Na escola é
frequentemente colocado de castigo, chamado de burro e desatencioso. Os colegas
riem da sua falta de capacidade em responder questões simples. Ishaan não faz
as tarefas de casa, não mostra as provas para os pais. Estar na escola é terrível para ele e Ishaan
começa a faltar aulas para ir para a rua.
Seus pais já
não sabem o que fazer com Ishaan que é o contrário do seu irmão, Yohaan, o melhor da sua classe. A mãe é
carinhosa, mas está esgotada. O pai também não aguenta mais ameaçar e bater no
menino e decide manda-lo para um rígido colégio interno. A escola tem fama de
“domar cavalos selvagens”.
Lá o garoto
precisa lidar com punições ainda mais severas além de se sentir sozinho,
abandonado pelos pais. Ishaan é domado.
Começa a se
isolar, como um animalzinho acuado, não é mais rebelde, já não desenha, não ri.
Apenas se arrasta pela escola como a criança mais fracassada do mundo. Não fica
feliz nem com a visita de seus pais e do seu irmão. Apático, de cabeça baixa,
indiferente a tudo. Ishaan é tratado (e se sente) como o pior entre os piores.
Um professor
temporário, Ninkumbk, começa a dar aulas na escola e ele é diferente de tudo o
que as crianças já viram. É engraçado, divertido, canta, dança e toca
flauta. É esse professor que vê em
Ishaan o que mais ninguém viu. O menino tem Dislexia.
E então tudo
começa a fazer sentido, as desatenções de Ishaan, seu mau comportamento, suas
dificuldades. A Dislexia é um transtorno genético da
linguagem caraterizada pela dificuldade de decodificar letras e símbolos. Nesse filmes
vemos todos os sintomas do transtorno: Ishaan confunde letras simples, confunde
palavras com grafias parecidas. Tem
dificuldade em seguir múltiplas ordens. Não consegue relacionar tamanho,
velocidade e distância. Tem dificuldades para ler,
escrever e soletrar. Até o mau comportamento de Ishaan é explicado pelo
professor: “Por que dizer ‘Eu não consigo’, se que posso dizer ‘Eu não quero.’”
Esse
professor é amoroso, paciente, trabalha as dificuldades de Ishaan e valoriza
suas potencialidades. A história é
ambientanda na índia mas será que nossas escolas estão preparadas para lidar
com as diferenças? Será que sabemos valorizar as diversas formas de
inteligência?
Ninguém nunca viu o verdadeiro problema de
Ishaan, comparavam-no com outras crianças e o achavam incapaz. Ninguém prestou
atenção às verdadeiras habilidades de Ishaan, sua imaginação, sua criatividade,
seu talento para pintura.
No filme o
professor Rom Shankar Ninkumbk apresenta para a turma diversos exemplos de
pessoas com dislexia importantes na história:
Albert Einstein, Leonardo Da Vinci, Thomas Edson, Pablo Picasso, Walt
Disney, Neil Diamond, Agatha Cristie.
A
narrativa tem muitos momentos de música, como uma inserção de vários
videoclipes. As músicas sempre corroborando com a história. Algumas dessas
cenas são longas, mas não chega a cansar não.
O trabalho
dos atores é muito bom, do garoto Darsheel Safary e
principalmente de Aamir Khan,
o diretor do filme que faz o papel do professor Ninkumbk. Com os olhos cheios de lágrimas, transmite a todos uma emoção
mais que verdadeira.
Nós
terminamos de assistir o filme nos perguntando quantos Ishaans existem por aí?
É um filme cheio de ensinamentos. Obrigatório para pais, professores,
psicanalistas, psicólogos e para todos que desejam se tornar alguém melhor
através da compreensão do outro. O filme
mostra que toda criança é diferente. Cada uma tem seu ritmo próprio. Cada
criança tem habilidades e capacidades únicas.
Assim como
as estrelas são únicas.
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