Raquel Rocha
Economista, Comunicóloga, Psicanalista e
Especialista em Saúde Mental
Membro da Academia de Letras de Itabuna
Do
escritor francês Maurice Druon. É o único livro fictício do autor e também o único com linguagem infantil que o autor
escreveu. Apesar da linguagem infantil, este é um livro que parece ter sido
escrito para adultos. A nota à edição
escrita pelo tradutor Dom Marcos Barbosa fala exatamente sobre isso.
"Pois
certas obras não transcendem apenas as fronteiras dos países, mas também as
fronteiras das idades: disfarçando a profundidade de suas mensagens na
singeleza de um livro para crianças, dirigem-se realmente aos adultos. Só eles
compreenderão mil coisas ditas entre as linhas ou sugeridas por vários
símbolos."
Por
sinal, Dom Marcos Barbosa foi também o tradutor de O Pequeno Príncipe. E são
livros bem parecidos; ambos trazem a sabedoria na inocência de uma criança mas
cada um com sua grandeza.
O
livro conta a história de Tisto, um menino rico, bonito, com pais maravilhosos. Ele tinha sorte, seu pai era dono da maior fábrica de canhões
do mundo. Tisto foi criado em meio ao luxo, numa casa maravilhosa cheia de
criados. O livro tem uma linguagem infantil, inquieta, inocente: ele descreve
os personagens de uma forma toda particular.
Apesar de ter tudo, Tisto era uma criança diferente das
outras e essa diferença ficou perceptível no dia em que Tisto entrou para a
escola. O menino simplesmente não conseguia assistir as aulas e por mais que
tentasse sempre acabava dormindo. Tirou vários zeros e foi expulso da escola. Nesse
momento da expulsão de Tisto nós nos deparamos com um dos mais belos trechos da
obra:
“A preocupação é
uma ideia triste que nos comprime a cabeça ao despertar e permanece ali o dia
todo. A preocupação se serve de qualquer meio para penetrar nos quartos; ela se
insinua como o vento no meio das folhas, monta a cavalo na voz dos pássaros,
desliza pelos fios da campainha.”
Depois de muita preocupação com a expulsão de Tisto, seus
pais resolvem aplicar um novo método de educação que seria o aprendizado
através da observação do mundo.
Tisto descobre então, que o mundo fora dos muros da sua
mansão que brilha não é tão perfeito. Uma das pessoas escolhidas para
apresentar o mundo a Tisto é o velho jardineiro da mansão e é ele quem descobre
que Tisto tem o dedo verde.
Eu tenho um carinho todo especial por esse livro porque meu
professor de Literatura falava muito dele. Numa cidade pequena que não tinha livrarias,
numa época que não tinha internet, era quase impossível encontrá-lo. Fiquei com
vontade de lê-lo até que um dia, em uma das tardes em que eu me refugiava na biblioteca, encontrei acidentalmente um exemplar empoeirado dele. Estava perdido numa prateleira, sem ser emprestado havia anos. E quando encontrei esse livro, era como se eu tivesse
encontrado o mais valioso tesouro do mundo.
Dedico esta resenha, que é mais uma declaração de amor, ao meu professor de literatura Jalon Leal, o qual, um dia, me falou sobre esse livro pela primeira vez.
Trechos, Frases, Citações
“ — Então, Tistu — perguntou ele— que foi que você
aprendeu? Que sabe de medicina?
— Aprendi — respondeu Tistu — que a medicina
não pode quase nada contra um coração muito triste. Aprendi que para a gente
sarar é preciso ter vontade de viver. Doutor, será que não existem pílulas de
esperança?O Dr. Milmales ficou espantado com tanta sabedoria num garoto tão
pequeno.—Você aprendeu sozinho a primeira coisa que um médico deve saber.
— E qual é a segunda, Doutor?
— É que para cuidar direito dos homens é
preciso amá-los bastante"
(Livro: O Menino do Dedo Verde de Maurice Druon)
"Chora, Tistu, chora. É preciso. As pessoas grandes não
querem chorar, e fazem mal, porque as lágrimas gelam dentro delas, e o coração
fica duro.”
(Livro: O Menino do Dedo Verde de Maurice Druon)
“— Tistu, não se distraia! Que é a ordem? —
perguntou o Sr.Trovões em tom severo.
— A ordem? É quando a gente está contente —
respondeu Tistu.
Hum, hum!" resmungou o Sr. Trovões, e
suas orelhas ficaram mais vermelhas que de costume.
— Eu já reparei — prosseguiu Tistu sem se
intimidar — que o meu pônei Ginástico, por exemplo, quando está bem
alimentado, bem penteado e tem a crina trançada com papel de chocolate, se
mostra muito mais contente que quando está coberto de lama. E sei também que o
jardineiro Bigode sorri para as árvores que estão bem podadas. A ordem não é
isso?"
(Livro: O Menino do Dedo Verde de Maurice Druon)
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