O Álcool
e a Maconha na História
A história do álcool no Brasil remonta
já à época da colonização. Os portugueses, ao chegaram no Brasil se depararam
com uma bebida produzida pelos indígenas a partir da fermentação da mandioca,
chamada cauim. Os portugueses, bem como outros europeus, já conheciam o vinho e
a cerveja, mas estas não eram tão fortes quanto a bebida produzida pelos
indígenas. Os índios também usavam o tabaco, que também já era conhecido pelos
portugueses.
É importante ressaltar que os indígenas
consumiam esta bebida em festas e rituais, havia, portanto, uma espécie de controle devido
a demarcação cerimonial e religiosa. Não
há relatos de dependência alcoólica nessa época como acontece hoje, em que o
consumo excessivo de bebidas alcoólicas pelos indígenas (seja pela condição de
extrema pobreza, perda de identidade cultural ou convivência com o homem branco)
se tornou um grave problema.
Voltando aos tempos da colonização, os
portugueses logo aprenderam a produzir a cachaça a partir da cana de açúcar. “O
açúcar para adoçar a boca dos europeus, como disse o antropólogo Darcy Ribeiro,
da amargura da escravidão; a cachaça para alterar a consciência, para calar as
dores do corpo e da alma, para açoitar espíritos em festas, para atiçar coragem
em covardes e para aplacar traições e Ilusões.” (Supera, Mod 01, pág 12) E
até hoje, a cachaça está entranhada na cultura brasileira que encontra motivos
para o uso do álcool tanto na alegria quanto na tristeza. Seu alto teor de álcool
e seu menor custo fazem com que este venha a ser um problema de grandes
proporções.
O uso do álcool não está atrelado
somente a vontade de beber, ele está relacionado a diversos outros fatores, entre
eles sociais (bebe-se para fazer parte de um grupo), culturais (vinho no natal,
licor no São João, espumantes para comemorar vitórias), por isso é muito
importante consideram o uso do álcool em um contexto mais amplo.
Além da diversidade dos fatores que
levam ao consumo, há também diferença nas consequências desse consumo: Sob a
mesma quantidade álcool algumas pessoas se tornam mais agressiva, outras mais
alegres, outras mais depressivas. Essa variação no efeito de substâncias
psicoativas depende das propriedades farmacológicas, da pessoa que usa, do
ambiente e do contexto.
“A embriaguez do alcoolista supõe um
homem tornado objeto, incapaz, a partir de então, de se abster de bebidas
perturbadoras. Muitas vezes sua dependência está relacionada a uma incapacidade
de encontrar em si próprio o que permitiria um domínio, uma resistência às
dores do mundo.” (Michel Onfray, filósofo francês)
A Maconha
O uso de maconha com fins medicinais é antigo, remonta de 2.700 a.C. Na Europa também era utilizada com a mesma finalidade durante os séculos XVIII e XIX. Marcelo Ribeiro, psiquiatra da Unifesp explica "A maconha foi utilizada especialmente na Índia, no Oriente Médio e na África. Na índia é utilizada dentro de rituais religiosos e no Oriente Médio entre a população mais pobre"
No Brasil ela foi introduzida pelos escravos africanos no século 16 e difundida
também entre os Indígenas, da mesma forma, usada com propósitos medicinais e
nas atividades de recreação.
"Os escravos traziam nas barras dos vestidos, das tangas. No século XVII, o vice-rei de Portugal mandava carregamentos de sementes de maconha para que a planta fosse cultivada no Brasil em grande quantidade. Então, a maconha era extremamente importante como produtora de fibra. A descoberta do Brasil se deu, em parte, por causa da maconha. As velas das nossas caravelas eram feitas de cânhamo. Cânhamo é maconha", conta o psicofarmacologista da Unifesp Elisaldo Carlini.
“No Brasil, no final do primeiro quarto do século XX,
segundo descrição de Pernambuco-Filho & Botelho, distinguiam-se duas classes
de “vícios”: os “vícios elegantes”, que eram o da morfina, da heroína e da
cocaína, consumidos pelas elites (brancas, em sua maioria) e os “vícios
deselegantes”, destacando-se o alcoolismo e o maconhismo, próprios das camadas
pobres, em geral, formadas por negros e seus descendentes. “(Supera, Mod 01, pág
18) No entanto, em pouco tempo o uso
espalhou-se também entre as classes mais altas. Apesar
disso permanece no imaginário social o estereótipo “pobre - preto - maconheiro - marginal - bandido”
Inalantes, Cocaína e Crack no Brasil
Em relação a cocaína pesquisas tem
apontado um aumento do consumo nas últimas décadas. A folha de coca tem sido
usada há milênios pelos povos andinos para diminuir a fadiga e o cansaço. No
Brasil ela já foi comercializada pelo laboratório Bayer, indicada para
situações de cansaço e desânimo. O crack é uma forma de cocaína preparada para
o consumo via inalação. Os registram mostram que ela começou a ser utilizada há
pouco mais de 20 anos, mas apesar de recente seu uso tem aumentado muito devido
ao seu menor curso (em relação ao pó da cocaína), efeito rápido, utilização
mais fácil (fumado)
Redução de Estigmas e Estereótipos
Para lidarmos com o problema de forma eficiente é necessário deixar de
lado os estigmas e os estereótipos. Estigma, segundo o dicionário Aurélio é uma
marca, cicatriz perdurável. Essa marca, que pode ser física ou social, tem
conotação negativa e levam o sujeito que a carrega a ser marginalizado. Já
estereótipo é uma visão preconcebida de pessoas ou grupos, uma generalização
que é feita sem o conhecimento mais apurado do sujeito ou grupo.
É importante evitar ideias arraigadas como a de que a droga é uma porta sem saída. Pesquisas nos EUA revelam que 92% dos jovens que experimentaram drogas uma vez não seguem fazendo uso regular, mas na medida em que essa concepção é disseminada, além de aumentar o estigma do usuário, ela pode ser internalizada pelo próprio sujeito desmotivando-o “Se não há saída porque eu vou procura-la?”. Da mesma forma, é importante evitar conceitos como “Sem força de vontade” ou “mau caráter.”. É o que o estudo em questão chama “Estigma Internalizado”, quando a pessoa acaba por acreditar e aceitar as características que lhe são atribuídas.
A desvalorização, humilhação e isolamento nada contribuem para a recuperação do sujeito, pelo contrário, leva a uma perda da autoestima e da crença em si próprio e na sua possibilidade de recuperação. Também ao usuário não deve ser atribuído a imagem de coitadinho ou frágil, os princípios e práticas de Redução de Danos preconizam que os usuários de drogas devem ser agentes ativos de seu próprio tratamento bem como de outros usuários, compartilhando suas experiências e orientando. Mais do que um agente ativo o usuário precisa ser o protagonista na mudança de vida.
Para concluir essa abordagem inicial sobre o assunto, recomendo a todos o filme "Bicho de Sete Cabeças" de 2000 dirigido por Laís Bodanzky baseado no livro autobiográfico de Austregésilo Carrano Bueno chamado "Canto dos Malditos". O filme versa sobre um jovem Neto (Rodrigo Santoro), que é internado em um hospital psiquiátrico após seu pai descobrir um cigarro de maconha em seu casaco.
Raquel Rocha
Economista, Comunicóloga, Psicanalista e Especialista em Saúde Mental
Membro da Academia de Letras de Itabuna
Esse
texto faz parte de uma série de textos produzidos por mim a partir dos estudos
no curso SUPERA (Sistema
para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas:
Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento) da
Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD) do Ministério da Justiça
(MJ), oferecido por meio da parceria com a Universidade Federal de São Paulo
(UNIFESP).
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