The Book Thief
Raquel Rocha
Comunicóloga, Psicanalista e Especialista em Saúde Mental
Não começarei esta resenha dizendo que o livro é melhor que o filme. Porque são duas formas diferentes de contar a mesma história. E, neste caso, uma belíssima história mostrada de forma tocante tanto no livro de Markus Zusak quanto no filme de Brian Percival.
A história é narrada pela Morte, que
encontra Liesel Meminger (Sophie Nélisse) pela primeira vez, em 1939, numa viagem
de trem. Sua mãe, uma comunista, está levando seus dois filhos para entregá-los
a um casal alemão e o irmão mais novo de Liesel acaba morrendo durante a
viagem. A partir desse momento a morte fica encantada com a menina e passa a
acompanhá-la durante os 4 anos seguintes.
Liesel é entregue ao casal Hans e
Rosa Hubermann. Ela, uma mulher amargurada com as dificuldades que a família
vem passando. Ele, um adorável tocador de acordeom que não perdeu a doçura. É
nesse contexto que Liesel vive sua infância, em meio às dificuldades da
Segunda Guerra, as atrocidades com os judeus, a amizade com Rudy Steiner e um
segredo que ela tem que esconder de todos: um judeu abrigado em seu porão.
O primeiro livro que Liesel rouba é
no enterro do seu irmão, um manual do coveiro que o mesmo deixa cair. Ela não
sabe ler, mas guarda aquele livro como uma relíquia. E é com ele que seu novo
pai a ensina a ler. Eles não têm papel e as palavras são anotadas nas paredes
do porão para que Liesel as aprenda. O segundo ela rouba das cinzas de uma
grande fogueira de livros feita pelos nazistas. E os seguintes ela passa a
roubar entrando pela janela na biblioteca do prefeito. Seu pai acaba se
tornando uma espécie de cúmplice. Através dos livros Liesel foge da dura
realidade em que vive, alimenta sua imaginação de menina e constrói uma poética
relação com o jovem judeu.
O ponto alto do filme é a escolha do
elenco, Geoffrey Rush, que interpretou com maestria Lionel Logue em The King's
Speech, dá um novo show como o adorável Hans. É impossível não amar aquele
velho de alma nobre, cujo sofrimento está explícito no olhar. Um homem bom que
vê injustiças e nada pode fazer. Rosa, interpretada por Emily Watson, lembra um
pouco a personagem Rose Narracott de War Horse. Ambas endurecidas por fora, mas
com um enorme coração, mulheres que criticam, mas também defendem os seus como feras.
Apesar das semelhanças com a personagem anterior, gosto da Rosa de Emily Watson e da
forma lenta e crua com a qual ela conquista o público no decorrer da narrativa.
Outras atuações fortes são de Ben
Schnetzer como o judeu Max Vandenburg, Sophie Nélisse como Liesel Meminger e
Nico Liersch como o apaixonante Rudy Steine. Nesse filme parece que todos os
atores se encaixaram perfeitamente nas imagens mentais que tínhamos dos
personagens dos livros.
O ponto fraco é a falta de algumas
explicações importantes. Mesmo não sendo possível transportar para o filme a
mesma quantidade de detalhes do livro, percebo que o roteiro do filme deixou de
lado pontos fundamentais que explicam a história, como o que aconteceu entre
Hans e o pai do judeu para que Hans arriscasse sua vida e a de toda sua família
abrigando o rapaz.
O diretor fez a feliz escolha de não
apelar à violência. Com exceção de uma única cena na qual os judeus são
arrancados de forma brusca de suas casas e lojas e espancados nas ruas, no
restante do filme Brian não se utiliza desse artifício para mostrar as
brutalidades ocorridas, que são do conhecimento de todos nós.
Um filme simples, mas, profundo, que
mostra as atrocidades da guerra pelos olhos de seres humanos bons, que não
perderam a capacidade de dar e receber amor. Pessoas que continuaram sendo
pessoas quando o mundo parecia repleto de animais enlouquecidos pelo ódio.
Apesar de narrado pela morte, diria que é um filme, acima de tudo, Humano.
Quotes do Livro
"Odiei
as palavras e as amei, e espero tê-las usado direito."
"Estou
sempre achando seres humanos no que eles têm de melhor e de pior. Vejo sua
feiura e sua beleza, e me pergunto como uma coisa pode ser as duas."
“Sua voz era
quase inaudível, mas os olhos gritavam mais do que nunca.”
"Estou
sempre achando seres humanos no que eles têm de melhor e de pior. Vejo sua
feiúra e sua beleza. E me pergunto como uma coisa pode ser as duas."
“Pode alguém
roubar a felicidade? Ou será que ela é apenas mais um truque interno dos
humanos?”
"Ela
era a roubadora de livros que não tinha palavras. Mas, acredite, as palavras
estavam a caminho e, quando chegassem, Liesel as seguraria nas mãos feito
nuvens, e as torceria feito chuva."
"O
silêncio não era quietude, nem calma, e não era paz."
Não quero
ter esperança de mais nada. Não quero rezar para que Max esteja vivo e em
segurança. Nem Alex Steiner, porque o mundo não os merece.
"O ser
humano não tem um coração como o meu. O coração humano é uma linha, no passo
que o meu é um círculo, e tenho a capacidade interminável de estar no lugar
certo e na hora certa. A conseqüência disso é que estou sempre achando seres
humanos no que eles têm de melhor e de pior. Vejo a sua feiúra e sua beleza, e
me pergunto como uma mesma coisa pode ser duas. Mas eles têm uma coisa que eu
invejo. Mais não seja, eles têm o bom senso de morrer.”
Markus Zusak
— A Menina Que Roubava Livros
Ficha técnica A Menina Que Roubava Livros
Título Original: The Book Thief.
Origem: Estados Unidos / Alemanha, 2013.
Direção: Brian Percival.
Roteiro: Michael Petroni, baseado em livro de Markus Zusak.
Produção: Ken Blancato e Karen Rosenfelt.
Fotografia: Florian Ballhaus.
Edição: John Wilson.
Música: John Williams.
· Sophie Nélisse como Liesel Meminger
· Geoffrey Rush como Hans Hubermann
· Emily Watson como Rosa Hubermann
· Ben Schnetzer como Max Vandenburg
· Nico Liersch como Rudy Steiner
· Joachim Paul Assböck como Oficial Schutzstaffel
· Sandra Nedeleff como Sarah
· Hildegard Schroedter como Frau Becker
· Rafael Gareisen como Walter Kugler
· Gotthard Lange como Coveiro
· Godehard Giese como polícia no comboio
Palavras Chaves: Resumo filme Crítica Resenha Comentário Opinião Citações Diálogos Quotes cinema Oscar Psicanálise
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