Por Raquel Rocha
Salvatore Di Vita é um famoso cineasta
que mora em Roma. A primeira cena do filme mostra sua mãe tentando ligar para
ele para avisar que alguém havia falecido enquanto sua irmã diz que é inútil,
que ele não se importa pois há 30 anos não retorna a Sicília, cidade em que
nasceu. Seria Salvatore Di Vita um boçal que renega suas raízes? A noite o
cineasta, ao deitar, recebe o recado que sua mãe havia deixado, comunicando o
falecimento e o funeral de alguém chamado Alfredo. A câmera vai se fechando
lentamente no rosto desse homem e acontece a magia do cinema.
Salvatore é então Totó, um o coroinha na igreja
da pequena cidade. Após a missa o padre vai até o cinema assistir o filme do dia
e censurar as cenas de beijos antes da exibição para o púbico. Totó vai junto
escondido e se enfia na sala de projeção onde o projetista Alfredo exibe os
filmes para o padre. Alfredo o expulsa mas ele sempre volta. Alfredo briga com
ele mas ele sempre rebate. Ele olha Alfredo retirar os pedaços de filmes com as
cenas dos beijos e pede-as para si. Alfredo não dá, diz que é material
inflamável, perigoso. Mas Totó sempre rouba alguns pedados que encontra no
chão.
Totó é um menino difícil, não se encaixa bem nos
papeis que deveria desempenhar, como coroinha, como aluno e como filho. Seu pai
não havia voltado da guerra e sua mãe vivia com dificuldade com duas crianças. A
única forma de felicidade de Totó estava no mundo dos filmes, onde tudo era
possível. Por isso não conseguia ficar longe da sala de projeção do Cinema
Paradiso, mesmo quando foi terminantemente proibido após provocar um incêndio em
sua casa com os pedaços de película que tinha furtado. A teimosia do pequeno
cinéfilo é maior que a resistência do projetista e aos poucos Alfredo aceita
aquele menino e divide com ele sua grande paixão.
Alfredo o ensina a projetar filmes mas sempre o
incentivando a estudar, pois ele precisava ser alguém, se livrar do vício do
cinema, para não acabar como ele, que passou a vida numa sala de projeção
esquecido. Uma belíssima amizade nasce entre essas duas figuras tão diferentes,
o menino e velho, unidos pelo amor aos filmes que são exibidos no Cinema
Paradiso.
O filme conta uma história simples, sem grandes
viradas, mas o roteiro é construído com tanta sensibilidade que o expectador
fica duas horas encantado diante da tela, sentindo-se exatamente como Totó
quando fugia para a sala de projeção.
A força do filme talvez decorra do fato de se
tratar de um retrato autobiográfico do diretor Giuseppe Tornatore (La leggenda
del pianista sull’oceano, La domenica specialmente) que conta sua história de
vida com sutileza rara. O filme fala sobre amizade, sobre destino, sobre paixão
e sobre o quanto uma pessoa pode se importar com outra. A cena final é umas das
mais belas da história do cinema. Não só a cena, Cinema Paradiso é um dos filmes
mais belos de todos os tempos, uma declaração de amor, uma verdadeira obra de
arte.
______
“Alfredo: Vivendo aqui dia após dia, você acha
que é o centro do mundo. Você acredita que nada vai mudar. Então você sai: um
ano, dois anos. Quando você voltar, tudo mudou. O fio está quebrado. O que veio
a encontrar não está lá. O que foi o seu está desaparecido. Você tem que ir
embora por um longo tempo … muitos anos … antes que você possa voltar e
encontrar o seu povo. A terra onde nasceu. Mas agora, não. Não é possível. Agora
você é mais cego do que eu.
Salvatore: Quem disse isso? Gary Cooper? James
Stewart? Henry Fonda? Eh?
Alfredo: Não, Toto. Ninguém disse isso. Desta
vez é sou eu. A vida não é como nos filmes. A vida … é muito mais
difícil.”
Gênero: Drama
Direção: Giuseppe Tornatore
Roteiro: Giuseppe Tornatore, Vanna Paoli
Elenco: Agnese Nano, Antonella Attili, Enzo Cannavale, Isa Danieli, Jacques Perrin, Leo Gullotta, Leopoldo Trieste,Mario Leonardi, Philippe Noiret, Pupella Maggio, Salvatore Cascio
Produção: Franco Cristaldi, Giovanna Romagnoli, Mino Barbera
Fotografia: Blasco Giurato
Trilha Sonora: Andrea Morricone, Ennio Morricone
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