A menina não gostava de ir à escola. Não é que ela não
gostasse de estudar, ela não gostava era da escola mesmo. Ela odiava tudo, os
colegas, os professores, as carteiras enfileiradas, as músicas bobas que a nova
estagiária trazia, o barulho da sirene e, acima de tudo, o recreio. O recreio
era tortura, aquele monte de crianças correndo eufóricas, gritando, grunhindo, brigando. Os meninos que teimavam em jogar pedras em uma lagartixa, as garotas que formavam
grupinhos pra maltratarem as outras. A menina realmente odiava aquela
multidão que surgia nos 20 minutos de intervalo, achava que as pessoas em
grandes grupos se tornavam piores, capazes de fazer coisas que não fariam
sozinhas.
A menina chorava pra não ir pra escola. Seus pais estavam desesperançosos, achava que a menina não levava jeito pros estudos, mas mesmo assim a obrigava a ir. Então ela ia, todos dias, com passos arrastados, querendo não chegar. Queria ser invisível, se curvava e usava um óculo maior que ela mesma. Na hora do recreio procurava o lugar mais isolado possível para comer seu lanche sozinha, ler um livro e pensar numa estratégia de fuga de volta para o planeta ao qual ela devia pertencer.
A menina chorava pra não ir pra escola. Seus pais estavam desesperançosos, achava que a menina não levava jeito pros estudos, mas mesmo assim a obrigava a ir. Então ela ia, todos dias, com passos arrastados, querendo não chegar. Queria ser invisível, se curvava e usava um óculo maior que ela mesma. Na hora do recreio procurava o lugar mais isolado possível para comer seu lanche sozinha, ler um livro e pensar numa estratégia de fuga de volta para o planeta ao qual ela devia pertencer.
Um dia a menina viu outra também
sozinha, sentada na ponta de uma das calçadas, viradas para as árvores, alheia
a multidão do recreio. Ela reconheceu a velhinha que fazia a limpeza da escola. Estava
sentada, sozinha, assim como ela era sozinha. A menina sentou ao lado da velha
senhora sem dizer uma palavra, apenas abriu seu lanche e começou a comer. A
velha senhora olhou pra menina e sorriu, e começou a falar, falar sobre tudo,
suas dores nas costas, seu filho ingrato, seus netos, sua vida. E todos os dias
a menina se sentou ao lado daquela velhinha. E já não era tão ruim ir a escola.
Contaram pra mãe da menina
que ela passava o recreio inteiro sentada com a velhinha da limpeza. A mãe
reclamou “Essa menina é esquisita mesmo, nunca vai mudar, não tem amigas!”
A mãe estava certa, ela era realmente esquisita. E não mudou. Ainda tem as mesmas teorias sobre as multidões, ainda odeia carteiras enfileiradas, músicas bobas e continua suspeitando ter vindo de outro planeta. Adora livros e conversar com velhinhas. Mas em uma coisa a mãe estava errada: aquela menina tinha uma grande amiga.
A mãe estava certa, ela era realmente esquisita. E não mudou. Ainda tem as mesmas teorias sobre as multidões, ainda odeia carteiras enfileiradas, músicas bobas e continua suspeitando ter vindo de outro planeta. Adora livros e conversar com velhinhas. Mas em uma coisa a mãe estava errada: aquela menina tinha uma grande amiga.
Lindo Raquel, mostra que o comum nem sempre é o preferível e que muitas vezes o incomum trz muito mais prazer.
ResponderExcluirOs velhos jovens da nossa sociedade agradecem o reconhecimento.