Por Raquel Rocha
Economista,
Comunicóloga,
Psicanalista e
Especialista em Saúde Mental
Pós-graduanda em
Neuropsicologia
Membro da Academia de Letras de Itabuna
Membro da Academia de Letras de Itabuna
A data não é precisa, no
livro “Tantra- A Ciência Eterna” encontramos que o Tantra foi primeiro
introduzido na Índia há 5000 anos aC por Sadashiva, um grande iogue que viveu
nas montanhas do Himalaia (pág 17). O tantra é uma filosofia de pensamento com
características matriarcais, sensoriais, e voltadas para a natureza. A maioria
das sociedades antigas carregavam consigo a filosofia tântrica, eram sociedades
com divindades femininas. Assim também era o povo drávida, que vivia Índia antiga.
Acredita-se que por volta
de 1500 a.C., a Índia foi invadida arianos (há teorias que dizem que eles eram
oriundos do Irã outros da América do Norte) e estes povos nômades dominaram a civilização hindu
(povo drávida). Os arianos (vedas)
implantaram na índia sua cultura
patriarcal e repressora o que acabou por dissolver (ou marginalizar) o tantrismo.
Temos então o início da Era Védica caracterizado pelo sistema de castas (Brâmanes, xátrias, vaixás e sudras)
O livro “A Tradição do Yoga” de George
Feuerstein traz uma cronologia diferente, conforme os tópicos abaixo:
·
Era Pré-Védica 6500-4500 aC
·
Era Védica (4500-2500 aC
·
Era Brahmândica 2500-1550 aC
·
Era Pós Védica ou Upanishádica 1500-1000
aC
·
Era Pré-Clássica ou Épica 1000 -100 aC
·
Era Clássica 100 - 500 dC
·
Era Tântrica ou Purânica 500 – 1300 dC
·
Era Sectária 1300 – 1700 dC
·
Era Moderna 1700 – Época Atual
Segundo George Feuerstein “Oculto a Deusa que está no âmago de muitas
escolas tântricas, já existia no princípio da época védica. Os mestres
praticantes do Tantra só aproveitaram-se das escolas sagradas e elementos
rituais já existentes que tinham por objeto a Deusa, e que sobreviveram até
hoje , especialmente nas comunidades rurais da índias. Alguns estudiosos, por
isso, atribuíram ao tantra uma antiguidade tão grande quanto a dos Vedas, se
não maior. Enquanto fenômeno literário, porém, o tantra não parece ter surgido
antes da primeira metade do primeiro milênio dC.” (grifo nosso)
Essa hipótese da invasão de
povos arianos na Índia tem sido questionada desde o final do século XIX. Descobertas
feitas a partir de escavações mostram que os vedas estavam na India há muito
mais tempo, a própria literatura Védica não faz menção a
suposta invasão. Mas, tendo havido invasão ou não, o fato é que o
Tantra só ressurgiu por volta de 500 dC na India Anteriormente a esse período a imperava na Índia
tradição védica de separação do homem e natureza, como se o primeiro devesse
superar o segundo para alcançar sua espiritualidade. Para isso os brâmanes
meditavam durante horas e até dias, negando as necessidades do corpo. Os
vedantas usavam uma técnica de meditação chamada pratyahara que objetivava
suprimir os cinco sentidos, também entregavam a práticas extremamente dolorosas
como meditar sobre brasas, negando a dor física. Os vedas buscavam a libertação
do espírito através da negação da matéria. O Tantra não despareceu
completamente durante esse período, mas era praticado/vivido secretamente, como
uma filosofia proibida.
O Tantra ressurge ligando
o homem à natureza e vendo o corpo físico como uma manifestação do divino. A
ideia do corpo como um elemento importante de integração o indivíduo e o cosmo
leva o homem a uma série de práticas com o corpo para alcançar tal integração,
desenvolve-se assim as técnicas do Hatha-yoga. Podemos dizer que o Hatha Yoga teve sua origem no
Tantra, seu início data do século XIII com Matsyendra e Gorakshanatha. Através
dos Asanas o corpo buscava se iluminar e dessa forma se conectar com a
consciência suprema.
A Palavra
"Tantra" é um termo sânscrito, "Tan" significa expansão e
"Tra" libertação. Tantra é aquilo que liberta da escuridão. Essa
expansão e libertação da escuridão é feita através do controle da mente. Ao
mesmo tempo, a palavra Tantra significa teia, representando a ideia de que
todas as coisas do universo estão interconectadas entre si.
O Tantra tem uma visão
positiva do universo encarando o mundo
fenomenal como uma manifestação da consciência essencial e infinita,
essa filosofia vê no corpo humano um templo e dessa forma carne e espírito
fundem-se. É através do nosso corpo que poderemos evoluir e compreender o
universo.
“Com a visão de que toda existência surge da mesma
Consciência Infinita, o princípio inerente ao Tantra é que cada indivíduo, ao penetrar
no âmago de sua consciência individual, pode vivenciar a unidade em todas as
coisas e transcender o fluxo turbulento da percepção sensorial e perspectiva
fragmentadora do mundo relativo. O objetivo final de Tantra é a união com a
Consciência ilimitada e não-qualificada– um estado além do ego ilimitado e da
sua fragmentação da realidade.” (Tantra- A Ciência Eterna pág 9)
Existem quatro tipos
de tantra: O Tantra do período Pré-Clássico, dravídico; O Tantra Clássico, adaptado aos costumes
arianos (os arianos acabaram por absorver
determinadas características culturais dos drávidas) e o Tantra Medieval, renascido em 500 dC que sobrevive até nossos dias. Para o Mestre Sérgio Santos, o Tantra, o Sámkhya e o Yôga são três das mais antigas filosofias
indianas.
“Durante
a sua evolução histórica, o tantra ultrapassou as fronteiras da Índia. Pode-se
observar a sua influência principalmente na China e Tailândia, Tibete e
Camboja, onde foi incorporado pelo budismo, lamaísmo e taoísmo,
respectivamente. Visto a proposta do Swásthya Yôga ser a autenticidade e pureza
das tradições, baseia-se essencialmente no tantrismo sob a óptica hindu. Foi na
Índia que surgiu o yôga original, o Dakshinacharatantrika-Niríshwarasámkhya
Yôga, hoje conhecido por Swásthya Yôga, como tal, está intimamente ligado à
tradição e cultura dessa época, pelo que o essencial é perceber isso mesmo: as
suas raízes, tradições, o yôga original. (Tantra - Breves Noções,
Texto publicado na revista Surya Online . Anabela Silva)
O Tantra reverencia a divindade feminina.
Na visão do Tantra a força feminina é a energia da criação, da sabedoria e da
intuição. Shákti é poder divino feminino,
aspecto feminino transcendente e sagrado. Pode ser representada por várias
deusas, assim Sarasvati é
a Shakti de Brahma,
Parvati é
a Shakti de Shiva e Lakshmi é
a Shakti de Vishnu.
É considerada a personificação da energia
cósmica em sua forma dinâmica. A base
filosófica do tantrismo é o conceito de Shaktí e Shiva: representando os
princípios feminino e masculino. Shaktí é energia, simboliza o poder dinâmico e
Shiva o poder estático.
Shákti é o poder (força e
energia) que cria e transforma. Esse poder está nas mulheres, pois é ela quem
dá a luz. O tantrismo prega a libertação da essência através da matéria, Shiva
é Consciência, Parvati é matéria, por isso o tantrismo diz-se
que Shiva sem Shaktí é shava, um cadáver. A
consciência (Shiva) precisa da matéria (Parvati) para se manifestar. Sem Shákti,
a natureza não teria forma e sem Shiva, a natureza não teria como
manifestar-se. O poder criador manifesta-se devido à presença da criação e
vice-versa.
Na
conclusão desse estudo percebemos que é impossível estabelecer datas, bem como
a ordem cronológica e quais acontecimentos de fato ocorreram, uma vez que se
trata de uma época remota na qual ainda não existia o registro escrito. Depois
de consultada várias obras chegamos a conclusão de que não há um consenso em
relação a origem do tantra, talvez porque ela existisse desde sempre. Mas do
que tentar entender é tantra é necessário perceber se essa filosofia faz
sentido na forma de viver.
REFERÊNCIAS
Tantra - Breves Noções, Texto publicado na
revista Surya Online . Anabela Silva
Yôga, Sámkhya e Tantra; Mestre Sérgio Santos; Uni-Yôga;
pág. 80
(Tantra- A Ciência Eterna
1982, pág 17. Publicações A’nanda M’arga). Em outros documentos essa filosofia
hindu data de 500 dC.
A Tradição do Yoga” de George Feuerstein
(2001)
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