Documentário
Happy
Raquel Rocha
Economista, Comunicóloga, Psicanalista e Especialista em Saúde Mental
Membro da Academia de Letras de Itabuna
Qual
o segredo da felicidade? Quais fatores podem desencadear esse sentimento? Como alcançá-la?
Como permanecer no estado de felicidade? Isto é possível? Essas e outras
perguntas estão presentes no documentário
Happy de 2011. Dirigido por Roko Belic (Genghis
Blues, The Batmobile).
Belic
decidiu-se fazer o filme por inspiração do seu amigo, o também diretor Tom
Shadyac (Ace Ventura, O Professor
Aloprado. O Mentiroso, Patch Adams, O Mistério da Libélula, Todo Poderoso, A
Volta do Todo Poderoso). Happy
levou 6 anos para ser concluído e foi gravado em 14 países diferentes. Entre
eles Índia, Dinamarca, Namíbia, Quênia, Escócia, China, Japão, Butão, Estados
Unidos e Brasil.
O
documentário começa com o morador de uma favela na Índia. Ele transporta
pessoas puxando-as a pé no riquixá
(uma espécie de carroça). E é esse condutor riquixá
quem descreve a dificuldade de seu próprio trabalho: “Alguns passageiros abusam de nós, especialmente os bêbados. Mas eu
nunca brigo (...). No verão, meus pés e cabeça queimam no calor do sol. Chega a
doer”
Esse
depoimento é o ponto de partida para que Belic pudesse apresentar um estudo
recente, que demonstra que aquele condutor é tão feliz quanto um americano
médio. E em seguida o mesmo motorista de riquixá
fala do quanto gosta do barraco no qual mora com sua família. Além do fato de
que é bom voltar para casa e ser recebido por seus filhos: “Ao ver o rosto do meu filho, me sinto muito feliz. Sinto que não sou
pobre, sinto que sou a pessoa mais rica.”
A
felicidade pode melhorar tudo em nossas vidas, ao sermos felizes, temos
melhores relacionamentos, melhor desempenho no trabalho, melhor saúde. Mas o que influencia o grau de felicidade? O
documentário explica-nos que 50 % desse grau de felicidade é determinada pelos
genes; 10% pelas circunstâncias, emprego, dinheiro, status social, saúde. E 40%
pela atividade intencional, isto é, aquilo que você decide fazer te deixa
feliz.
Os
estudos sobre a felicidade pesquisam a dopamina, um neurotransmissor
responsável pelas sensações de prazer. “Conforme
a pessoa fica mais velha, a partir da adolescência ela perde sinapses de
dopamina e provavelmente neurônios de dopamina [...] Se a perda for severa, a pessoa
fica com mal de Parkison”. A ideia, portanto, é buscar experiências que
liberem dopamina ou exijam dopamina. Atividades físicas estão entre as melhores
opções. Sempre mudando o jeito de fazer.
A mudança é importante. “A
variedade é o tempero da vida.”
Mas
será que as adversidades tornam as pessoas infelizes? O documentário Happy diz que nem sempre. O importante é
a capacidade de resiliência. Na verdade, não existe prazer sem dor, pois o sistema
nervoso é um motor diferencial. Ele procura diferenças, contrastes e faz
comparações. Um pedaço de pão pode deixar um faminto muito feliz, mas, em
linhas gerais, não deixaria alguém que tem sempre comida a sua disposição.
E
quanto àquele velho ditado? Dinheiro traz ou não traz felicidade? Bem, o
dinheiro pode alterar seu grau de felicidade até o momento em que ele supre
suas necessidades básicas. A partir daí, o dinheiro não compra sua felicidade, porque não importa o seu grau de riqueza,
você vai se adaptar a ele e desejar sempre mais: “A adaptação hedonista é um dos maiores inimigos da felicidade.” Se,
por um lado, o dinheiro pode não fazer assim tanta diferença, há um fator que
influência muito: as relações humanas. Deste modo, foi identificado que os
indivíduos felizes sempre têm família e amigos próximos.
As
pessoas em geral possuem na vida dois tipos de metas: Intrínsecas e
Extrínsecas. As extrínsecas focam, obviamente, algo externo às pessoas:
recompensas, elogios, dinheiro, boa aparência, sucesso financeiro. As metas
intrínsecas estão relacionadas às necessidades psicológicas do indivíduo: crescimento
pessoal, ser você mesmo, ter relacionamentos próximos com amigos e familiares,
sensação de comunidade, vontade de ajudar o mundo a ser um lugar melhor.
Uma
década de estudo mostrou que as pessoas mais orientadas pelas metas
extrínsecas, voltadas ao dinheiro, status e imagem, por exemplo, declararam
maior insatisfação com a vida. Essas pessoas eram mais deprimidas e mais
ansiosas, tinham menos energia no dia a dia. As pessoas orientadas a metas
intrínsecas (crescimento pessoal, ser você mesmo, ter relacionamentos próximos
com amigos e familiares, por exemplo) eram mais felizes, tinham mais
vitalidade, menos depressão, menos ansiedade.
E
existe diferença de felicidade de um lugar para outro? Os estudos mostram que o
Japão é o país menos feliz entre os países industrializados. Uma sociedade que
vive voltada para o estudo e o trabalho. Isso teria sido necessário para propiciar
a reconstrução do país no pós-guerra. Hoje, um fenômeno novo é identificado por
lá: as pessoas estão morrendo de tanto trabalhar; já existe até uma palavra
para isso – “karoshi”.
Outros
países colocam a felicidade entre suas prioridades. O Butão (país localizado na
Ásia, na Cordilheira do Himalaia, entre a China (ao norte) e a Índia (ao sul)),
por exemplo, usa como parâmetro de crescimento, em vez do PIB, a FIB,
Felicidade Interna Bruta.
A
Dinamarca também aparece no ranking dos mais felizes. Um país conhecido pela
igualdade social e alto padrão de vida. Lá todos recebem educação e saúde
gratuitas. Muitas pessoas daquele país moram em comunidades de coabitação, que
são locais onde várias famílias convivem juntas, cooperam umas com as outras em
diversas atividades e se ajudam no que precisa. Uma experiência que reforça a
importância das relações humanas.
Ter
religião ou sentimentos espirituais também é benéfico, porque isso conecta as
pessoas entre si e as conecta ao universo, algo maior que elas. No entanto,
esse princípio não se aplica às religiões radicais, que alimentam o ódio,
utilizando-se de ideias fundamentalistas.
Numa
sociedade que estimula a competição, os estudos mostram que o ser humano é
programado para se sentir bem quando ajuda o outro, pois cooperação gera sinais
de dopamina. E o documentário Happy mostra
que quando ajudamos, mudamos o foco de “O
que eu não tenho” para “O que eu
tenho para dar”. Em Happy, a
sabedoria de diversas culturas é apresentada, junto com o resultado de estudos
e opiniões de especialistas.
O
documentário Happy tem duração de 75
minutos e faz você refletir sobre a sua própria felicidade. O que você faz é
por você mesmo ou só pelas aparências? Quanta importância você dá às conquistas
matérias? Você pratica gratidão, compaixão, carinho, amor, altruísmo?
Happy
faz você se questionar sobre o que realmente importa na vida e acima de tudo
mostra que a felicidade não pode ser atingida sozinha. Ou como bem cantou Tom
Jobim (“Wave”): “Vou te contar / Os olhos já não podem ver / Coisas que só o
coração pode entender / Fundamental é mesmo o amor / É impossível ser feliz
sozinho”.
Enfim,
amar e ser amado, apoiar e ser apoiado, cuidar e ser cuidado, eis o que faz da
vida uma experiência prazerosa e gratificante.
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