Por Raquel Rocha
Economista, Comunicóloga,
Psicanalista e Especialista em Saúde Mental
Pós-graduanda em Neuropsicologia
Membro da Academia de Letras de Itabuna
Membro da Academia de Letras de Itabuna
Obra-prima
francesa do ano de 2010. Dirigido por Jean Becker (Sejam Muito Bem-vindos e Conversas com Meu Jardineiro).
Germain,
interpretado por Gérard Depardieu é um homem de meia idade que vive de forma
simples e carrega consigo a inocência de uma criança. Ele cultiva frutas e
verduras para vender na feira, tem uma namorada que dirige um ônibus e seus
passatempos são: encontrar os amigos em um bar e alimentar os pombos na praça.
Sua horta é
no quintal da casa de sua mãe onde ele também mora num trailer. Sua relação com
sua mãe é tumultuada. Sempre foi assim, desde a infância de Germain. Sua mãe
engravidou de um rapaz com quem ela esteve por uma noite, portanto considerava
Germain um erro, um estorvo na vida dela.
Germain tinha
dificuldade nos estudos, na escola era caçoado por alunos e professores.
Germain não aprendeu a ler. Não aprendeu a ser amado. Só aprendeu a ser bom
porque a bondade fazia parte dele. Mesmo quando adulto, seus amigos faziam
piada dele, da sua dificuldade de compreensão, da sua falta de jeito de dizer
as coisas.
Esse homem
simples estava condenado a se sentir incapaz por toda a vida, mas ele conhece
Margueritte, uma velhinha de 95 anos, que lê livros no banco da praça onde ele
alimenta os pombos.
A conversa
surge naturalmente, Margueritte fala sobre o livro que está lendo. Margueritte lê um trecho para Germain. Eles
passam a se encontrar por várias tardes, Margueritte lê livros inteiros para
ele. Germain é um ouvidor atento, fecha os olhos e imagina tudo o que
Magueritte lê. Desses encontros nasce uma belíssima amizade. Em Margueritte,
Germain vê uma amiga, uma professora, uma mãe, uma luz para sua vida.
Fazendo uma
análise Psicanalítica de “Minhas Tardes com Margueritte” podemos perceber como
Germain se tornou o homem que conhecemos. Ele cresceu sendo chamado de burro e
ele introjetou o que ouvia se bloqueando cognitivamente por toda vida.
Por isso
nunca diga a uma criança que ela não é capaz de algo, porque ela acredita.
Acredita que realmente não é capaz e sendo assim, desiste sequer de tentar.
A mãe
dizia: “Só faz besteira” “Come, da prejuízo e se suja”
A mãe
chamava-o de “Isto” e aquela criança acreditou que era um nada.
Talvez por
isso sua necessidade constante de colocar seu nome num monumento em homenagem
aos mortos de guerra. Como se ele não existisse de verdade, mas quisesse muito
estar na memória de alguém.
Germais
sente falta de um pai que nunca teve. Numa conversa com a namorada ele
desabafa:
“Em toda
família há momentos de afeto. Afagam a sua cabeça e dizem ‘é a cara do pai’. Eu
não sou a cara de ninguém, talvez um par de culhões... Ele não existe, nem eu.
Não tive um modelo. Precisei descobrir tudo sozinho.”
Sua mãe
esta senil, mas continua tratando-o mal, debochando dele. Quando um de seus
amigos pergunta por que ele mora no quintal da mãe, por que ele não vai para
longe ele responde “Eu não a escolhi Nem ela me escolheu” E acrescenta “ teria
que ir para o fim do mundo, Entre minha mãe e eu, a distância está na cabeça”
Quando
Gemain encontra Margueritte o processo que chamamos de transferência é
imediato. Todas as faltas de sua mãe parecem ser preenchidas, ao contrário da
sua mãe Margueritte é carinhosa, paciente, incentiva Germain e acredita no seu
potencial.
Mas aquela
frágil senhorinha de 95 anos está cada vez mais debilitada, está perdendo sua
visão e com isso Germain pode perder sua luz.
Baseado
no livro “La Tête en Friche”, de
Marie-Sabine Roger, o longa foi Minhas tardes com Margueritte é mais que um
filme, é uma aula de psicanálise, uma aula de vida, é uma poesia. Não deixem de
assistir.
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