Por Raquel Rocha
Economista, Comunicóloga,
Psicanalista e Especialista em Saúde Mental
Pós-graduanda em Neuropsicologia
Membro da Academia de Letras de Itabuna
Membro da Academia de Letras de Itabuna
Campanha eleitoral deveria ser assim: Uma cadeira, um pano
branco no fundo, uma câmera e um cinegrafista.
Bota na cadeira o sujeito que quer assumir um cargo de
governança e manda ele falar do que já fez e das suas propostas de governo. Todos os
candidatos na mesma cadeirinha, com o mesmo paninho branco atrás, cara a cara
com a câmera, sem superprodução, sem campanhas milionárias, sem equipe de
cinema escrevendo roteiros e preparando VTs emocionantes. E se o candidato mentir a
respeito de algum dado, terá a candidatura caçada imediatamente.
O cenário é simplista, eu sei. Simples, sóbrio, modesto e barato. Essa padronização de baixo custo começaria diminuindo a discrepância
absurdas entre campanhas eleitorais. Hoje, o candidato é eleito não pelos seus
méritos, propostas ou capacidade de governar, mas pela quantidade de dinheiro
gasto em sua campanha. Isso torna faccioso todo processo eleitoral, e no fim
acaba-se elegendo, na maioria das vezes, péssimos governantes.
Mas essa desigualdade no processo eleitoral não é o mais
nefasto entre os efeitos das campanhas milionárias. O pior acontece depois,
na hora de pagar a conta. Sendo o financiamento público ou privado, essa conta
sempre será paga. Porque as empresas que doam milhões para determinados
partidos certamente não o fazem por caridade, simpatia ou altruísmo, o fazem na
certeza de receber algo em troca no futuro.
As campanhas eleitorais no Brasil estão entre as mais caras
do mundo. Em 2004 a campanha de um candidato à presidência no Brasil foi a
segunda mais cara no mundo, só perdendo para a de Bush,
nos Estados Unidos. E com uma diferença: lá eles declaram todas as doações
recebidas e todos os gastos realizados.
Todos os gastos de uma campanha deveriam
ser rigorosamente monitorados, viagens, santinhos, carros de som, trios
elétricos, fogos de artifícios, pagamento de artistas, bandeiras... mas abordo os
gastos com propaganda na TV porque estes representam a maior parte do custo de
uma campanha eleitoral.
É justamente das campanhas políticas milionárias que nascem
as maiores mazelas do nosso sistema político: delas
nascem as licitações fraudulentas, as PLs que favorecem as empresas X ou Y, os
apadrinhamentos, os cargos comissionados, as indicações, os funcionários
fantasmas.
Por conseguinte temos a merenda escolar de péssima qualidade,
porque a empresa X que “ganhou” a licitação financiou a campanha do governo
atual; a estrada esburacada porque a empresa Y que também “ganhou” a licitação,
financiou a campanha, e assim por diante.
De onde sai o dinheiro para pagar esses contratos
milionários em troca de produtos e serviços ordinários? Do dinheiro público, do
meu e do seu, da saúde, da educação, da segurança, etc. Em suma: campanhas
milionárias, contratos milionários, desvios milionários. Todo mundo de rabo
preso! Todo mundo devendo favor a todo mundo e no fim essa conta é sempre paga
com dinheiro público, independente do financiamento ser público ou privado.
Por tudo isso, e muito mais, volto a propor a cadeira, o
pano branco, a câmera e a sinceridade. E que, de uma vez por todas, acabem com as
campanhas milionárias, porque o mal só é cortado definitivamente, se o
cortarmos pela raiz.
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