Freud, do livro Totem e Tabu e outros trabalhos
"O que me vai dizer deve diferir, sob determinado
aspecto, de uma conversa comum. Em geral, você procura, corretamente, manter um
fio de ligação ao longo de suas observações e exclui quaisquer idéias
intrusivas que lhe possam ocorrer, bem como quaisquer temas laterais, de
maneira a não divagar longe demais do assunto.
Neste caso, porém, deve proceder
de modo diferente. Observará que, à medida que conta coisas, ocorrer-lhe-ão
diversos pensamentos que gostaria de pôr de lado, por causa de certas críticas
e objeções. Ficará tentado a dizer a si mesmo que isto ou aquilo é irrelevante
aqui, ou inteiramente sem importância, ou absurdo, de maneira que não há necessidade
de dizê-lo. Você nunca deve ceder a estas críticas, mas dizê-lo apesar delas —
na verdade, deve dizê-lo exatamente porque sente aversão a fazê-lo.
Posteriormente, você descobrirá e aprenderá a compreender a razão para esta
exortação, que é realmente a única que tem de seguir. Assim, diga tudo o que
lhe passa pela mente. Aja como se, por exemplo, você fosse um viajante sentado
à janela de um vagão ferroviário, a descrever para alguém que se encontra
dentro as vistas cambiantes que vê lá fora. Finalmente, jamais esqueça que
prometeu ser absolutamente honesto e nunca deixar nada de fora porque, por uma
razão ou outra, é desagradável dizê-lo."
(FREUD, 1914, P. 149)
Nenhum comentário:
Postar um comentário