quarta-feira, 27 de julho de 2016

A Importância do Sânscrito

Por Raquel Rocha
Economista, Comunicóloga, 
Psicanalista e Especialista em Saúde Mental
Pós-graduanda em Neuropsicologia
Membro da Academia de Letras de Itabuna



No dicionário Michaelis encontramos o seguinte significado: “adj (sânsc samskrta, perfeito) 1 Relativo ou pertencente ao sânscrito ou escrito nele; sanscrítico. 2 Relativo à cultura índica clássica ou derivada dela.sm. Antiga língua da família indo-europeia; a língua clássica da Índia e do hinduísmo, em que está escrita a maioria da sua literatura desde os Vedas.”
A data do surgimento do Sânscrito é imprecisa. O Rig veda (Primeiro livro dos Veda e o mais importante deles) é um dos registros mais antigos do sânscrito. Ele reúne 1.028 hinos compostos em sânscrito védico.  Estima-se que o Rig veda foi escrito por volta de 1700–1100 a.C., durante o período védico. Apesar da data do Rig Veda, o Sânscrito védico pode ser muito anterior a essa época, apenas não temos registros.
O Sânscrito védico é uma forma arcaica do sânscrito, é a mais antiga língua dentre a família de línguas iranianas e europeias. A palavra Sâscrito vem de Saṃskṛtam. “Sam” quer dizer “junto” e “Kr” fazer, criar. Com o tempo o adjetivo verbal saṃskṛta passou a significar algo culto e refinado.
 O Sânscrito da era védica, também chamado de devabhāṣā que significa língua dos deuses, surgiu não como uma língua mas como uma maneira sofisticada de falar. O conhecimento do sânscrito indicava elevada colocação social desde a infância, ou seja, as pessoas nascidas nas castas mais altas eram educadas com o Sânscrito. Dessa forma no dicionário Aurélio o Sânscrito é definido como “Nome dado à antiga língua dos Brâmanes.”
O Sânscrito clássico é uma evolução do Sânscrito Védico. Enquanto o Sânscrito védico data 1700 a 1100 aC,  o Clássico tem seu registro mais antigo no século V a.C. com a primeira gramática do sânscrito, a de Pāṇini. Foi com Pāṇini que o devabhāṣā passou a se chamar Sânscrito. Estima-se que o sânscrito védico sobreviveu até a metade do primeiro milênio a.C quando começou a se transformar no O Sânscrito clássico.
William Jones, filólogo (estudioso da linguagem em escritos antigos) inglês nascido em 1746 descreveu o  Sânscrito da seguinte forma: “A linguagem Sânscrita, seja qual for sua idade, é de uma linda estrutura; mais perfeita que o Grego, mais copiosa que o Latim, e mais precisamente refinada que ambas, ainda compartilha com ambos uma forte afinidade, tanto nas raízes dos verbos quanto nas formas de gramática, que não pode ter sido criada por acidente; é, na verdade, tão forte, que nenhum filólogo poderia examinar as três sem acreditar que tenham nascido de uma fonte comum, que, talvez, nem exista mais.” (Sir William Jones, falando com a Asiatic Society em Calcutá (atual Kolkata) em 2 de fevereiro, 1786)
O Sânscrito nunca foi considerado uma língua morta devido ao seu uso frequente em textos e cânticos religiosos, em especial no hinduísmo mas também no budismo. A maioria das línguas faladas atualmente na Índia (são 23 línguas oficiais) são derivadas ou influenciadas pelo sânscrito. Apesar disso é um erro achar que todos os indianos falam Sânscrito. Numa tentativa de resgatar a sua importância o próprio Sânscrito foi declarado como língua oficial. O censo indiano de 1991 numerou 49.736 falantes fluentes de sânscrito. A Índia, inclusive, tem um jornal diário em Sânscrito, o Sudharma que existe desde 1970.
O sânscrito ofereceria acesso direto a um plano superior. Acredita-se que os mantras foram revelados aos grandes mestres em sânscrito, ou seja, o som dos mantras em sânscrito tem vibrações que conduzem a mente para determinado objetivo. O Som é uma propagação de onda mecânica, são ondas de deslocamento, densidade e pressão que se propagam em meios materiais. Assim, entende-se no Yoga que as vibrações das palavras podem modificar os condicionamentos da mente.
A língua sânscrita é formada por raízes. Exemplo: Mantra. “Man” significa  mente e “Tra” significa liberação, portanto a palavra Mantra pode ser traduzida como instrumento para liberar (ou conduzir) a mente. Além da palavra “mantra”, diversas outras palavras da língua portuguesa são derivadas do Sânscrito, como Ioga que vem de Yoga e significa  "integração". Já a palavra Açúcar deriva do Sanscrito sakkar ou sarkara, que significa “grãos de areia”ou “grãos doces”.  O conceito de zero também nasceu com os indianos por volta de 600 a.C, a palavra árabe “çifr” que quer dizer vazio, zero, veio do sânscrito ûnya, vazio.

Além ser um portal de  acesso direto a um plano superior, o Sânscrito também é uma chave para o conhecimento da história e da cultura original indiana. Conhecer o sânscrito nos permite compreender certos escritos que podem ter sofrido modificações na tradução para outras línguas.

terça-feira, 5 de julho de 2016

O QUE É TANTRA?




Por Raquel Rocha
Economista, Comunicóloga, 
Psicanalista e Especialista em Saúde Mental
Pós-graduanda em Neuropsicologia
Membro da Academia de Letras de Itabuna


A data não é precisa, no livro “Tantra- A Ciência Eterna” encontramos que o Tantra foi primeiro introduzido na Índia há 5000 anos aC por Sadashiva, um grande iogue que viveu nas montanhas do Himalaia (pág 17).  O tantra é uma filosofia de pensamento com características matriarcais, sensoriais, e voltadas para a natureza. A maioria das sociedades antigas carregavam consigo a filosofia tântrica, eram sociedades com divindades femininas. Assim também era o povo drávida, que vivia Índia antiga.

Acredita-se que por volta de 1500 a.C., a Índia foi invadida arianos (há teorias que dizem que eles eram oriundos do Irã outros da América do Norte) e estes povos nômades dominaram a civilização hindu (povo drávida). Os arianos (vedas) implantaram na índia sua cultura patriarcal e repressora o que acabou por dissolver (ou marginalizar) o tantrismo. Temos então o início da Era Védica caracterizado pelo sistema de castas (Brâmanes, xátriasvaixás e sudras)

O livro “A Tradição do Yoga” de George Feuerstein traz uma cronologia diferente, conforme os tópicos abaixo:
·         Era Pré-Védica 6500-4500 aC
·         Era Védica (4500-2500 aC
·         Era Brahmândica 2500-1550 aC
·         Era Pós Védica ou Upanishádica 1500-1000 aC
·         Era Pré-Clássica ou Épica 1000 -100 aC
·         Era Clássica 100 - 500 dC
·         Era Tântrica ou Purânica 500 – 1300 dC
·         Era Sectária 1300 – 1700 dC
·         Era Moderna 1700 – Época Atual

Segundo George Feuerstein “Oculto a Deusa que está no âmago de muitas escolas tântricas, já existia no princípio da época védica. Os mestres praticantes do Tantra só aproveitaram-se das escolas sagradas e elementos rituais já existentes que tinham por objeto a Deusa, e que sobreviveram até hoje , especialmente nas comunidades rurais da índias. Alguns estudiosos, por isso, atribuíram ao tantra uma antiguidade tão grande quanto a dos Vedas, se não maior. Enquanto fenômeno literário, porém, o tantra não parece ter surgido antes da primeira metade do primeiro milênio dC.” (grifo nosso)

Essa hipótese da invasão de povos arianos na Índia tem sido questionada desde o final do século XIX. Descobertas feitas a partir de escavações mostram que os vedas estavam na India há muito mais tempo, a própria literatura Védica não faz menção a suposta invasão. Mas, tendo havido invasão ou não, o fato é que o Tantra só ressurgiu por volta de 500 dC na India   Anteriormente a esse período a imperava na Índia tradição védica de separação do homem e natureza, como se o primeiro devesse superar o segundo para alcançar sua espiritualidade. Para isso os brâmanes meditavam durante horas e até dias, negando as necessidades do corpo. Os vedantas usavam uma técnica de meditação chamada pratyahara que objetivava suprimir os cinco sentidos, também entregavam a práticas extremamente dolorosas como meditar sobre brasas, negando a dor física. Os vedas buscavam a libertação do espírito através da negação da matéria. O Tantra não despareceu completamente durante esse período, mas era praticado/vivido secretamente, como uma filosofia proibida.

O Tantra ressurge ligando o homem à natureza e vendo o corpo físico como uma manifestação do divino. A ideia do corpo como um elemento importante de integração o indivíduo e o cosmo leva o homem a uma série de práticas com o corpo para alcançar tal integração, desenvolve-se assim as técnicas do Hatha-yoga. Podemos dizer que  o Hatha Yoga teve sua origem no Tantra, seu início data do século XIII com Matsyendra e Gorakshanatha. Através dos Asanas o corpo buscava se iluminar e dessa forma se conectar com a consciência suprema.

A Palavra "Tantra" é um termo sânscrito, "Tan" significa expansão e "Tra" libertação. Tantra é aquilo que liberta da escuridão. Essa expansão e libertação da escuridão é feita através do controle da mente. Ao mesmo tempo, a palavra Tantra significa teia, representando a ideia de que todas as coisas do universo estão interconectadas entre si.

O Tantra tem uma visão positiva do universo encarando o mundo  fenomenal como uma manifestação da consciência essencial e infinita, essa filosofia vê no corpo humano um templo e dessa forma carne e espírito fundem-se. É através do nosso corpo que poderemos evoluir e compreender o universo.

Com a visão de que toda existência surge da mesma Consciência Infinita, o princípio inerente ao Tantra é que cada indivíduo, ao penetrar no âmago de sua consciência individual, pode vivenciar a unidade em todas as coisas e transcender o fluxo turbulento da percepção sensorial e perspectiva fragmentadora do mundo relativo. O objetivo final de Tantra é a união com a Consciência ilimitada e não-qualificada– um estado além do ego ilimitado e da sua fragmentação da realidade.” (Tantra- A Ciência Eterna pág 9)

Existem quatro tipos de tantra: O Tantra do período Pré-Clássico, dravídico; O Tantra Clássico, adaptado aos costumes arianos (os arianos acabaram por absorver determinadas características culturais dos drávidas) e o Tantra Medieval, renascido em 500 dC que sobrevive até nossos dias. Para o Mestre Sérgio Santos, o Tantra, o Sámkhya e o Yôga são três das mais antigas filosofias indianas.

“Durante a sua evolução histórica, o tantra ultrapassou as fronteiras da Índia. Pode-se observar a sua influência principalmente na China e Tailândia, Tibete e Camboja, onde foi incorporado pelo budismo, lamaísmo e taoísmo, respectivamente. Visto a proposta do Swásthya Yôga ser a autenticidade e pureza das tradições, baseia-se essencialmente no tantrismo sob a óptica hindu. Foi na Índia que surgiu o yôga original, o Dakshinacharatantrika-Niríshwarasámkhya Yôga, hoje conhecido por Swásthya Yôga, como tal, está intimamente ligado à tradição e cultura dessa época, pelo que o essencial é perceber isso mesmo: as suas raízes, tradições, o yôga original. (Tantra - Breves Noções, Texto publicado na revista Surya Online . Anabela Silva)

O Tantra reverencia a divindade feminina. Na visão do Tantra a força feminina é a energia da criação, da sabedoria e da intuição. Shákti é poder divino feminino, aspecto feminino transcendente e sagrado. Pode ser representada por várias deusas, assim Sarasvati é a Shakti de Brahma, Parvati é a Shakti de Shiva e Lakshmi é a Shakti de Vishnu. É considerada a personificação da energia cósmica em sua forma dinâmica. A base filosófica do tantrismo é o conceito de Shaktí e Shiva: representando os princípios feminino e masculino. Shaktí é energia, simboliza o poder dinâmico e Shiva o poder estático.

Shákti é o poder (força e energia) que cria e transforma. Esse poder está nas mulheres, pois é ela quem dá a luz. O tantrismo prega a libertação da essência através da matéria, Shiva é Consciência, Parvati é matéria, por isso o tantrismdiz-se que Shiva sem Shaktí é shava, um cadáver. A consciência (Shiva) precisa da matéria (Parvati) para se manifestar. Sem Shákti, a natureza não teria forma e sem Shiva, a natureza não teria como manifestar-se. O poder criador manifesta-se devido à presença da criação e vice-versa.

Na conclusão desse estudo percebemos que é impossível estabelecer datas, bem como a ordem cronológica e quais acontecimentos de fato ocorreram, uma vez que se trata de uma época remota na qual ainda não existia o registro escrito. Depois de consultada várias obras chegamos a conclusão de que não há um consenso em relação a origem do tantra, talvez porque ela existisse desde sempre. Mas do que tentar entender é tantra é necessário perceber se essa filosofia faz sentido na forma de viver.

REFERÊNCIAS

Tantra - Breves Noções, Texto publicado na revista Surya Online . Anabela Silva

Yôga, Sámkhya e Tantra; Mestre Sérgio Santos; Uni-Yôga; pág. 80

(Tantra- A Ciência Eterna 1982, pág 17. Publicações A’nanda M’arga). Em outros documentos essa filosofia hindu data de 500 dC.

A Tradição do Yoga” de George Feuerstein (2001)