quarta-feira, 25 de maio de 2011

Laissez faire, laissez passer...



Máxima do liberalismo econômico:

"Laissez faire, laissez aller, laissez passer;
Le monde va de lui même"

"Deixai fazer, deixai ir, deixai passar;
O mundo caminha por si mesmo"

domingo, 15 de maio de 2011

PARADA DO ORGULHO LOUCO

Release

Será realizada no dia 21 de maio, sábado, em Salvador, a  partir das 09hs. Um trio elétrico iniciará a caminhada que seguirá pela avenida Presidente Vargas, das imediações do morro do Cristo até o Farol da Barra. O evento vem tornando-se mais uma marca da luta antimanicomial, que defende o “cuidado integral à pessoa em sofrimento mental”.

Por isso, uma das palavras de ordem é “Manicômio Não Cura, Manicômio Tortura”. A “IV PARADA DO ORGULHO LOUCO” é uma manifestação dos usuários(as), familiares e trabalhadores(as) do sistema de saúde mental do estado da Bahia, que, organizados(as) como um movimento social coletivo, buscam propagar as conquistas e comemorar os êxitos da “Reforma Psiquiátrica Antimanicomial”.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

O QUE É A LOUCURA?

Apesar de a psicanálise ser destinada a pessoas normais (o que é a normalidade?) aliviando pequenas dores, curando neuroses e principalmente levando ao  autoconhecimento, ela também tem sua função terapêutica em casos de psicose. Esse é um assunto que fica pra uma discussão futura, no momento vamos entender (ou tentar) o que é a chamada loucura.

O Grito- Edward Munch

AFINAL, O QUE É A LOUCURA?

Conceituar a loucura é difícil devido a proliferação de seu uso com múltiplos significados na atualidade. Normalmente o termo loucura é designado para referir a uma doença mental que afasta o indivíduo da realidade. Também utilizada para designar atitudes foram dos padrões normais estabelecido por determinada sociedade. Do ponto de vista psiquiátrico podemos dizer que a loucura é utilizada para descrever as psicoses, sobretudo a esquizofrenia.

Para Ballone (2005) a esquizofrenia é uma doença da personalidade que afeta a zona central do eu e altera toda estrutura vivencial. “Culturalmente o esquizofrênico representa o estereotipo do ‘louco’, um indivíduo que produz grande estranheza social devido ao seu desprezo para com a realidade reconhecida”.  Ballone acrescenta ainda que o louco é alguém que rompeu as amarras da concordância cultural, menosprezando a razão ao mesmo tempo em que perde a liberdade de escapar às suas fantasias”

Para Lopes (2001), historicamente a loucura tornou-se conceituada como psicose no fim do século XIX e início do século XX. Mas depois, ao longo do século XX, psicose propriamente dita fica sendo a esquizofrenia. Ou seja, esquizofrenia, fenomenologicamente percebida, é a definição da mais típica das psicoses, a psicose padrão. O autor acrescenta que “a loucura descrita pelos trágicos gregos, a loucura descrita na bíblia, é a mesma loucura de hoje, do homem que mora em apartamento em qualquer cidade do mundo. Psicose é igual a loucura” (LOPES, 2001, p.3)

Mannoni (1971) explica o ponto de vista freudiano:

À pergunta: que é a loucura? Freud respondeu mostrando que não era preciso opor a loucura à normalidade. O que se descobre na loucura está de certa maneira já no inconsciente de cada um e os loucos simplesmente sucumbiram numa luta que é a mesma para todos e que todos temos de conduzir sem interrupção.....(mas) por que alguns sucumbem e outros não?  (MANNONI, 1971  p.37)

Segundo o Vocabulário de Psicanálise de Laplanche e Pontalis (1982): No decurso do século XIX o termo psicose espalha-se, sobretudo na literatura psiquiátrica de língua alemã para designar as doenças mentais em geral, a loucura, a alienação, sem implicar, aliás, uma teoria psicogenética da loucura. (p. 502)

Freud estabelece que as psicoses são distúrbios resultantes de conflitos entre Id e a  realidade. O ego fracassa ao mediar essa luta e acaba sendo arrancado da realidade, para um mundo de fantasias que tenta satisfazer o Id. Honorato e Gebara (2004) acrescenta que segundo Freud numa psicose existe a predominância do Id e a perda presente da realidade. A primeira etapa da psicose é o afastamento do Ego da realidade, a segunda é a tentativa de reparação do dano causado e de restabelecer as relações com a realidade sem restrições ao Id, remodelando a realidade. Ainda na visão freudiana o delírio na psicose é aplicado como remendo para uma “fenda” que apareceu na relação entre o Ego e o mundo externo.

Barros (2010) distancia a loucura das doenças mentais: “loucura é um tipo de comportamento, uma faceta da sociedade, presente nas mais diversas situações. Doenças mentais são transtornos de saúde que podem afetar sentimentos, pensamento e comportamento.” (BARROS, 2010, p.11).

Percebemos a diversidade do conceito de loucura, as vezes o resultado da doença mental, as vezes a própria doença, as vezes um desvio de comportamento.  Na medicina o tempo não é utilizado tecnicamente por ser muito elusivo. Informalmente ele é utilizado para designar patologias como a psicose. Talvez mais apropriado que designar essas patologias o termo seja usado para designar o resultado dessas patologias na medida em que tira o indivíduo do contato com a realidade ou que faz com que o doente tenha um comportamento anormal.

No senso comum o termo loucura é utilizado para designar pessoas com atitudes que fogem aos padrões culturalmente estabelecidos pelo seu meio social. Apesar dos avanços a neurociência ainda não consegue dar respostas completas sobre a causa de todos os transtornos, nem como curá-los. Os psicóticos (com exceção dos portadores de psicose orgânica) não apresentam nenhuma alteração biológica em seu cérebro.

Esquirol (1772-1840) considerava a loucura como sendo a somatória de fatores genéticos e ambientais. Hoje em dia, depois de muitos anos de pesquisas, a psiquiatria moderna reafirma a teoria de Esquirol. O principal modelo, portanto, para a integração dos fatores etiológicos da esquizofrenia é o modelo estresse-diátese, no qual o sujeito tem uma vulnerabilidade que, colocada sob a influência de fatores ambientais estressantes leva a psicose.

REFERÊNCIAS
BALLONI
GJ - Esquizofrenias- in. PsiqWeb, Internet, disponível em <http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=108> ,atualizado em 2008. Acesso em 13/04/2011
BARROS- Os Psicóticos e os Normais- Apontamentos sistemáticos aleatórios. http://www.hottopos.com/seminario/sem2/barros1.htm  Acesso em 01/02/2011

HONORATO GM, GEBARA AC- Alguns aspectos que podem ser identificados no psicodiagnóstico de Psicose Infantil, in. PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.med.br, 2004.
LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J. B. (1982): Vocabulário da psicanálise. Editora Martins Fontes. 1992. p. 502.
LOPES, 2001 A psiquiatria na época de Freud: evolução do conceito de psicose em psiquiatria Revista Brasileira de Psiquiatria. vol.23 no.1 São Paulo Mar. 2001
MANNONI, Maud. O psiquiatra, seu “louco” e a psicanálise, Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1971
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE; Relatório Mundial da Saúde. Saúde mental: nova concepção, nova esperança. Genebra: Organização Mundial da Saúde, 2001.

domingo, 1 de maio de 2011

GARAPA


No meio de tanta teoria psicanalítica peço licença para falar de cinema. Como os solilóquios são meus, eu mesma me autorizo.

Ontem finalmente assisti o documentário Garapa, de José Padilha que retrata a miséria de algumas famílias do interior do Ceará. O documentário é chocante. Não que a gente não saiba que ainda tem gente passando fome por aí, mas uma coisa é saber, outra é ver crianças extremamente magras, com as costelas aparecendo, pedindo comida, comendo no chão como se fossem animais, disputando a comida com as moscas. “Garapa” o nome da mistura de água quente com açúcar colocada na mamadeira e dada as crianças quando não se tem outra coisa para dar.

Garapa dá um tapa na cara de todo mundo que assiste, dizendo “Isto é real, Veja.”.

O documentário traz a tona vários problemas sociais como a miséria, a falta de planejamento familiar, o alcoolismo, o desemprego. O pai que deixa os filhos com fome e vai beber cerveja. A mãe que não tem como alimentar seus filhos mas continua engravidando. Pessoalmente não gosto da referência ao bolsa família. Mesmo perplexa com as cenas de fome, não acredito que o bolsa família seja a solução. É apenas um paliativo, um cala-boca, um “não morra tão rápido”. A solução concreta, mesmo que demorada, das nossas mazelas sociais está na educação.  (mas mudemos de assunto)

Muito mais agradável que falar de questões sociais e políticas, é falar da cinematografia. Padilha filmou a maior parte do documentário com câmera fixa. As imagens em preto e branco, mostradas as vezes em plano geral, as vezes me plano detalhe, o tempo todo ordena “Não tire os olhos de mim”. Assistir Garapa me lembrou das fotografias do livro Terra, de Sebastião Salgado. Quase ouvi a voz de Saramago narrando aquela realidade. Mas o filme não tem narração, não tem trilha sonora, só tem a realidade nua e crua mostrada com arte.

Gosto das intervenções de Padilha, das perguntas discretas feitas por trás das câmeras, da forma como ele se intromete e se retira das cenas, gosto até da interferência que ele faz em uma situação. Um diretor não é uma lente.

Quando assisti o primeiro Tropa de Elite, filmado com aquela câmera nervosa, em movimento, participando da ação, pensei “Esse filme parece documentário”. Dessa vez, Garapa com sua imagem fixa, sua pouca profundidade de campo, seu ritmo lento, pensei “Isso parece filme..”. Padilha surpreende, surpreende com sua temática e com sua estética.

Só não digo que Garapa é um filme bonito porque a miséria é muito feia..





É possível assistir ao documentário completo no endereço http://www.youtube.com/view_play_list?p=CE990E24E3AA3DFD